Para que uma relação humana – seja ela qual for – seja sustentável, é necessário que tenha mérito. Para isso, precisamos de dois ingredientes apenas: conforto e segurança. Qualquer que seja o motivo que une dois ou mais seres humanos para uma empreitada, uns buscarão nos outros este reconhecimento. Parte-se do princípio, então, de que ninguém faz nada sem querer algo em troca – nem que seja um generoso “muito obrigado”.
O Terceiro Setor depende muito do trabalho voluntário – desde as atividades operacionais rotineiras até a alta direção, vemos nas mais de 300 mil ONGs brasileiras o trabalho não remunerado como peça importante na engrenagem da locomotiva social. Nesse contexto, quase sempre, quem toma as principais decisões dentro de uma organização sem fins lucrativos não recebe nenhum centavo por depositar seu conhecimento, tempo e energia em uma causa na qual acredita.
Com o advento da Lei das Oscips, em 1999, e mais recentemente, com a promulgação da lei 13.019/09, a remuneração de dirigentes passa a ser legitimada e permitida. Mas, ainda está longe de ser uma realidade, em especial pela cultura encravada nas entidades sociais de não se remunerar a diretoria e a presidência.
Mas será que a gestão dessas organizações não seria mais profissionalizada se tivéssemos a dedicação integral dos dirigentes? Será que, como nas empresas, a diretoria não deveria ser contratada pelo seu histórico profissional (e não somente pela sua boa vontade)? O conhecimento usado em favor da ONG de um profissional não vale dinheiro? Na Europa e Estados Unidos, remunera-se dirigentes? Essas e outras inquietações que nós, dirigentes do Terceiro Setor, temos, foram abordadas na matéria de capa dessa edição de nossa Revista Filantropia.
A missão do Filantropia, desde a criação desta publicação, em 2002, sempre foi a de profissionalizar a gestão do Terceiro Setor. Por isso, defendemos que SIM, a direção das organizações não só deve ser remunerada, como deve ser bem remunerada, com médias salariais de mercado. Só assim a gestão estratégica poderá ser bem aplicada, utilizando as melhores técnicas e ferramentas de controladoria, marketing, gestão de pessoas, compliance, dentre tantas outras. E o “lucro” das ONGs, ou seja, as benesses para a sociedade, poderão atingir os melhores níveis de eficiência.
Afinal, não é só dar o peixe para depois ensinar a pescar: é necessário que se crie uma estrutura sólida e sustentável de autossuporte para toda a sociedade.
Filantropia não é caridade. Filantropia é amor à humanidade.
#pratiquefilantropia
Abraços sustentáveis