Participação na economia

Por: Thaís Iannarelli
01 Novembro 2010 - 00h00
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Participação na economia

Com o passar dos anos, oportunidades de trabalho no Terceiro Setor têm se tornado mais comuns e abundantes em todas as regiões do país. Assim, jovens em início de carreira podem optar por começar a vida profissional já atuando nessa área, enquanto outros mais experientes migram do setor privado para o Terceiro Setor
com o intuito de buscar uma atuação que tenha um fim social importante, embora, em termos salariais e de plano de carreira, o Segundo Setor ainda seja mais atrativo.
De acordo com o estudo Fundações Privadas e Associações Sem Fins Lucrativos (Fasfil), realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2005 havia 1,7 milhão de pessoas registradas como trabalhadores assalariados nas 338,2 mil Fasfil do país esse número representa 22,1% do total de empregados na administração pública. Um dado interessante é que mais da metade do pessoal ocupado assalariado (57,1%), ou seja, quase 1 milhão de pessoas, está em instituições situadas no Sudeste, especialmente no Estado de São Paulo que reúne, sozinho, 553,7 mil desses trabalhadores. Essa realidade coincide com o fato de que a maior parte das pessoas ocupadas de forma geral no país está no Sudeste.

Ainda em desenvolvimento e expansão, Terceiro Setor movimenta a economia do país e gera empregos que competem com a iniciativa privada

Para atrair tantos trabalhadores, a área tem se mostrado mais profissionalizada, mas ainda tem muitos desafios a superar. “Geralmente, as maiores instituições têm uma estrutura melhor, e tiveram de se profissionalizar. Normalmente são essas também que têm os recursos garantidos. A questão do recurso financeiro para a organização sobreviver tem impacto direto na estruturação de qualquer outra área, inclusive na de recursos humanos. Então vemos que institutos empresariais, por exemplo, que têm um financiador estável, tendem a ter uma gestão de RH mais estruturada”, explica Mariana Nicolletti, gerente de Desenvolvimento de Negócios da Nonprofit Enterprise and Self-Sustainability Team (NESsT) no Brasil.

Migrantes da iniciativa privada

Muitos profissionais decidiram deixar seus empregos na iniciativa privada para procurar um trabalho no Terceiro Setor. A profissionalização da área social, juntamente com a crescente necessidade que as instituições encontraram de melhorar seus aspectos de gestão e liderança, tem causado esse efeito de trazer não só as técnicas de administração da iniciativa privada, mas também muitos de seus profissionais.
Mas o que leva as pessoas a mudarem de emprego, para uma área ainda em desenvolvimento no país? “Em geral, as pessoas que migram para o Terceiro Setor estão em busca de um trabalho com sentido. Você quer trabalhar por uma causa, ou por algo que tenha um fim interessante mesmo. Aí, abre-se mão de uma série de coisas objetivas, uma delas sé o salário, em alguns casos, em troca dessa outra coisa, que é esse trabalho que faz sentido na sua vida”, explica Mariana.
Porém, segundo Waldir Mafra, parte da direção da regional São Paulo da Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais (Abong), “é preciso deixar claro que nas organizações sem fins lucrativos encontramos os mesmos problemas que nas empresas ou setor público, há disputa de espaço, estresse e pressão para resultados. Trabalhar nas instituições sem fins lucrativos é também penoso, sem falar que há uma clara diferença salarial entre os setores. O que nos anima é o resultado de nosso esforço, que muitas vezes tem a ver com o bem-estar de pessoas e comunidades, e isso acaba por contar mais do que o salário ou os benefícios normalmente oferecidos pelas empresas”.

Área social movimenta a Economia

Em pesquisa de Lester Salamon envolvendo 40 países feita em 2008, demonstrou-se que as ONGs já movimentam o equivalente a US$ 1,9 trilhão por ano no mundo. Se fosse um país independente, o Terceiro Setor teria sido a oitava maior economia do planeta no período abordado pela pesquisa, levando em consideração esses 40 países. Outro levantamento mostra que as ONGs movimentam cerca de R$ 35 bilhões por mês só com o pagamento de salários – que, por sinal, segundo Salamon, já estão se aproximando dos salários pagos na iniciativa privada. Nos Estados Unidos, um trabalhador do Terceiro Setor recebe, em média, US$ 627 por semana, em comparação a US$ 669 no setor privado. No Brasil, os trabalhadores da área social ganham aproximadamente 3,8 salários mínimos por mês (R$ 1.940,00, em valores atuais), o que corresponde a 3,2% a mais que a média nacional. “A crença de que os trabalhadores do Terceiro Setor ganham menos que seus colegas do setor privado é, hoje, na melhor hipótese, uma meia-verdade”, conclui Salamon.
Outro fator que se destaca na área social atualmente é a empregabilidade diversificada que, segundo a Fasfil, reflete as diferenças na abrangência do atendimento e na complexidade dos serviços prestados. O grupo de entidades de Educação e Pesquisa que faz parte do estudo representa apenas 5,9% das Fasfil, mas concentra 29,8% do total de trabalhadores. Mais especificamente no grupo da Educação, há muito mais empregados no subgrupo de Educação Superior, já que aproximadamente 2 mil universidades empregam 239,7 mil trabalhadores (14% do total).
Já na área da Saúde, observa-se o mesmo fenômeno. Em 4.464 entidades trabalham 415 mil pessoas. Existe uma grande diferença entre a proporção do pessoal ocupado assalariado nos hospitais e nas entidades que prestam outros serviços de saúde. Estas representam mais da metade das entidades do setor (53,7%) e absorvem apenas 13,2% dos profissionais de saúde.
Outro fator que caracteriza o Terceiro Setor brasileiro é a distribuição das entidades – 80,4% das Fasfil se encontram nas regiões Sudeste e Sul do país. Da mesma forma, essas regiões concentram também o maior número de trabalhadores – 35,1% do total. No Norte e Nordeste, há forte presença de entidades religiosas e de defesa de direitos dos cidadãos, que são as que menos empregam. Para se ter uma ideia, nessas duas regiões existem apenas 346 hospitais e 363 universidades ou faculdades, enquanto no Sul e Sudeste são 1.623 hospitais e 1.609 universidades ou faculdades.
Embora o Terceiro Setor seja uma área em franco desenvolvimento, ainda não são tão valorizadas pela sua importância para a sociedade. “Veja que não há quase incentivos fiscais para quem deseja fazer doações para essas entidades, são elas que chegam onde o Estado não chega, são elas que, muitas vezes, orientam com seu trabalho a formulação de políticas públicas. São um instrumento legítimo de fortalecimento da democracia e, assim mesmo, têm de se virar como podem para se sustentar, são guerreiras, tiram leite de pedra aqui no Brasil. Nos Estados Unidos e outros países mais industrializados, isso não é assim. Precisamos chegar num ponto em que o Estado reconheça definitivamente a importância e o impacto do trabalho dessas organizações e incentive de forma efetiva as doações para essas entidades”, conclui Mafra.

Mercado de trabalho

Ao começar a busca pelo emprego, hoje em dia, não há apenas a opção de buscar a iniciativa privada, o setor público ou de abrir um negócio próprio. Agora, o emprego nas instituições do Terceiro Setor se tornou parte das opções no momento de se escolher o que fazer. Além disso, a área social se tornou também um campo de migração de profissionais já estabelecidos em outras áreas, que consideram esta uma forma de se fazer algo pela sociedade.
Para Mariana, que dá consultoria a organizações menores, “a primeira coisa importante é conseguir profissionais bons, com experiência, que tragam para o Terceiro Setor algumas ferramentas que já estão mais desenvolvidas e implementadas no setor privado. Claro que é necessária alguma adaptação, mas o uso de modelos é fundamental para o desenvolvimento desse setor. E aí, para conseguir atrair talentos mesmo, é necessário que se invista em recursos humanos, o que é uma linha de investimento ainda muito pouco valorizada no Brasil”, explica.
Assim, os profissionais requisitados para as vagas na área normalmente precisam ter formação superior, não necessariamente em alguma área específica, mas com habilidades diversas que possam colaborar com o trabalho de redação de projetos sociais, captação de recursos, relações com parceiros, domínio de ferramentas de informática, conhecimento de outras línguas etc.
No estudo O Terceiro Setor como Mercado Profissional, de Lucia Helena Alves Muller, Marcia Cristina Alves, Décio Soares Vicente e Pablo de Oliveira Gonçalves, publicado pela Civitas, revista de Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), foram analisados os sites do Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife) e da Rede de Informações para o Terceiro Setor (Rits), que trazem oportunidades de trabalho no setor social. O grupo analisou um total de 1.097 vagas disponíveis entre março de 2004 e fevereiro de 2006.
A pesquisa definiu diferentes cargos referidos nos anúncios com a seguinte classificação:

  • Cargos diretivos: diretor, gerente, gestor, superin-
    tendente, coordenador, oficial, supervisor, chefe e subdiretor;
  • Cargos intermediários: assessor, assistente, assistente executivo, auditor interno, auxiliar, instrutor, secretário executivo, analista e controlador;
  • Cargos operacionais: auxiliar, técnico e agente;
  • Cargos de treinamento: estagiário, bolsista, monitor e trainee;
  • Voluntários: trabalho sem remuneração;
  • Sem vínculo: consultor, colaborador, divulgador e pesquisador;
  • Sem informação: não identificam um cargo específico para o profissional requerido.

De acordo com essa classificação, a pesquisa identificou que a maioria das vagas oferecidas não especificava o cargo (37%). Porém, é elevada também a busca por cargos diretivos (22%), ou seja, existe uma hierarquização do trabalho nas organizações sociais e também o crescimento da busca por profissionais qualificados. Da mesma forma, 15% das vagas eram destinadas aos cargos de treinamento, fato que demonstra que o Terceiro Setor compõe, de fato, um novo ramo de trabalho para aqueles que estão cursando o ensino superior ou que acabaram de se formar.
Outra característica marcante encontrada no estudo é que, nos anúncios, há mais de uma opção para a mesma vaga, sendo que nem sempre pertencem à mesma área. Outra parte significativa dos anúncios (24% das referências) não especifica a formação exigida para os candidatos. Porém, muitos exigem domínio de alguma ferramenta específica de informática ou habilidades, como artesanato, música e esporte.
Em relação à formação, existe grande demanda por profissionais de serviço social, ciências sociais, direito, história e relações internacionais. Comunicação e publicidade também são áreas procuradas para atuação no Terceiro Setor, assim como a administrativa e a financeira. Os autores chegaram à conclusão de que essas informações reforçam a hipótese de que “o campo do Terceiro Setor está se conformando como um campo concorrencial, no qual as organizações têm que atuar de forma estratégica, mostrando-se eficientes na captação e gestão dos recursos e buscando reconhecimento e visibilidade frente à sociedade para garantirem sua sobrevivência”.
A busca por profissionais graduados demonstra que a exigência e a procura por pessoas qualificadas que aprimorem o trabalho das instituições está crescendo. Até pessoas com formação técnica têm espaço. Na pesquisa, foram encontradas vagas na área de engenharia, estatística, desenho industrial e ciências exatas em geral, assim como profissionais da área ambiental, de saúde e artes.

Formação profissional

O estudo O Terceiro setor como Mercado Profissional selecionou, ainda, as exigências citadas nos anúncios. Segundo os autores, “organizados dessa forma, os dados expressam muito mais o perfil do profissional que é valorizado pelas organizações do campo do Terceiro Setor do que a caracterização desse mercado de trabalho em termos quantitativos”. As exigências mais citadas foram:
Qualificação técnica: avaliar relatórios, ter conhecimento de legislação, ter carteira de habilitação, ter conhecimentos em informática, noções de contabilidade, noções de língua inglesa etc.
  • Competência: boa comunicação, articulação, redação, capacidade de trabalhar em equipe, criatividade, paciência, dinamismo etc.
  • Disponibilidade: horário, residir em outra cidade, viagens, trabalhar em casa etc.
  • Domínio de novas tecnologias sociais: inclusão digital, comunicação comunitária, especialização em mobilização de recursos, marketing social, cidadania, indicadores sociais, políticas públicas etc.
  • Motivação e interesses: afinidade com movimentos sociais, compromisso com a mudança social etc.
    Características pessoais: ser solteiro, morar no local, não ter filhos menores, ser portador de necessidades especiais etc.
  • Nível de escolaridade: segundo nível do curso superior, cursando a graduação.
  • Outros: possuir notebook, veículo próprio.
  • Sem informação.

Os dados mostram que os indiv íduos que quiserem ingressar como profissionais no campo do Terceiro Setor devem apresentar alguns requisitos, em especial no que se refere à qualificação técnica, que aparece em 40% das ocorrências. Nessa categoria, estão incluídas qualificações mais generalistas, como possuir conhecimentos na área da informática, dominar ferramentas de administração e finanças (gestão, contabilidade, vendas), dominar idiomas estrangeiros, algum tipo de legislação específica, ter formação para o magistério etc. Mas também aparecem exigências de qualificações mais específicas, como dança, desenho, ou, ainda, algum tipo de especialização, como: conhecimentos na área da saúde reprodutiva ou sobre espécies marinhas. Isso demonstra que o campo do Terceiro Setor está se constituindo como um espaço de trabalho muito diversificado e qualificado para o qual profissionais com perfis e trajetórias muito variados podem se dirigir.
Por outro lado, mesmo nos anúncios que buscam profissionais com qualificações tradicionais, já aparece a exigência de domínio das chamadas “novas tecnologiasociais”, ou seja, das qualificações que podem ser consideradas típicas do “Terceiro Setor”. Elas aparecem em 7% das ocorrências.
No que se refere às exigências específicas, 19% daque aparecem nos anúncios conformam um perfil profissional com características e habilidades para se adequar a ocupações flexíveis e adaptáveis às demandas dum mercado.

Cursos de especialização em Terceiro Setor

Com a crescente demanda por profissionais na área, muitos cursos de pós-graduação e treinamentos voltados à gestão do Terceiro Setor surgiram no Brasil. Conheça alguns deles:

Pós-graduação Lato Sensu

MBA Gestão do Terceiro Setor (Instituto Paulista de Educação Continuada): O curso é destinado a graduados de qualquer área do conhecimento, com atuação profissional voltada às questões sociais e ambientais. Entre as disciplinas, estão: ambiente econômico e Terceiro Setor; planejamento estratégico de projetos sociais; fontes de financiamento e captação de recursos; ética; voluntariado e responsabilidade, entre outras.
www.ipeceduc.com.br

MBA em Gestão e Empreendedorismo Social (Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor): O objetivo do curso é formar empreendedores e gestores para assumirem iniciativas sociais em organizações do Terceiro Setor ou em áreas de responsabilidade sociade empresas e órgãos públicos.
www.ceats.org.br

Pós-graduação em Gestão do Terceiro Setor (Centro Universitário Adventista de São Paulo): O curso modular é voltado para profissionais que atuem ou tenham interesse em atuar no Terceiro Setor. O objetivo do curso é capacitar os participantes para a elaboração, negociação, gestão e avaliação de projetos sociais.
www.unasp.br

Pós-graduação em Gestão de Projetos Sociais em Organizações do Terceiro Setor (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo): Dividida em cinco módulos (Gestão de Pessoas e Comunicação Colaborativa no Terceiro Setor; Gestão de Projetos Sociais; Marco Legal, Captação de Recursos e Gestão de Parcerias; Cidadania, Ética e Rede de Cooperação; e Monografia), a especialização tem o objetivo de aproximar a teoria e a prática no que diz respeito à gestão na área social.
www.cogeae.pucsp.br

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