Onde há fumaça, há fogo.E muitos outros desafios

Por: Felipe Mello, Roberto Ravagnani
01 Março 2005 - 00h00

Apresentar uma peça teatral cuja protagonista seja uma celebridade mundial não é fácil, ainda mais quando existe um sentimento de posse, admiração e preocupação coletiva pela figura central do enredo. O caso se agrava quando a temática que envolve a protagonista não é uma obra das artes cênicas, mas sim oportunidades de negócios multimilionários, e mais, é fator determinante para o bem-estar mundial, o que explica o grande interesse e comoção que causa há tempos.

Abrindo as cortinas do mistério: essa protagonista refere é a Floresta Amazônica, localizada ao norte do continente sul-americano, com aproximadamente 67% de sua área situada dentro do território brasileiro. O restante está distribuído entre Venezuela, Suriname, Guianas, Bolívia, Colômbia, Peru e Equador. Ou seja, a maioria considerável desse universo está em terra brasilis, o que reforça ainda mais a importância do trabalho da organização a ser apresentada.

Não é segredo que a floresta reúne uma sorte incomparável e incomensurável de riquezas, atraindo interesses diversos desde a colonização do Brasil. A pilhagem vem acontecendo de acordo com a disponibilidade dos recursos naturais e da necessidade econômica em cada etapa do processo. A intensificação da exploração ganhou fôlego a partir da década de 70, com maior ocupação e extração mineral e vegetal.

Atualmente, os principais processos de degradação envolvem desmatamentos para agropecuária, extração de madeira e ocupação. A indústria de mineração também explora a floresta em busca de ferro, cassiterita, bauxita, ouro, entre outros elementos. E quem pensa que a degradação pára por aí, está enganado. As queimadas transformam espaços gigantescos em cinzas para formação de pastagens, abertura de estradas, e outras finalidades. Enfim, dissertar sobre os ataques à integridade da Floresta Amazônica é prato cheio para quem gosta de escrever títulos com milhares de páginas, dada a truculência, variedade e volume de incursões sinistras e inconseqüentes.

A opção escolhida aqui, no entanto, é a apresentação de uma iniciativa que há quase 17 anos busca minimizar o trator da irresponsabilidade. Trata-se da Associação SOS Amazônia, fundada em setembro de 1988 com o objetivo de denunciar as agressões, além de apoiar o movimento de resistência dos seringueiros aos desmatamentos no Acre e colaborar com a formação de uma opinião pública que valorize a conservação ambiental.


O início e a projeção de trabalho

A assembléia de criação da organização contou com a participação de professores da Universidade Federal do Acre, servidores públicos e líderes do movimento social, dentre eles o ecologista Chico Mendes. A partir de 1991, tendo a Educação Ambiental para o tratamento de resíduos sólidos como principal linha de trabalho, a associação passou a atuar na área urbana de Rio Branco, capital do Acre.
Envolveu-se indiretamente na gestão de áreas florestais a partir de 1989 e, em 1995, de maneira direta, voltou-se para o planejamento e gestão de Unidades de Conservação. “De forma ampla, a missão de nossa organização é promover na sociedade o crescimento da consciência ambiental, a proteção dos recursos naturais renováveis e a conservação da biodiversidade, para garantir vida saudável às atuais e futuras gerações”, afirma Kelly Gouveia, secretária administrativa da SOS Amazônia. Tal consciência é urgente, pois pesquisas indicam que em menos de 30 anos uma área maior que a França foi destruída na Amazônia.

O trabalho de maior destaque da associação foi a elaboração do Plano de Manejo do Parque Nacional da Serra do Divisor, área de conservação que abrange cinco municípios acreanos: Cruzeiro do Sul, Mâncio Lima, Rodrigues Alves, Marechal Thaumaturgo e Porto Walter. O tamanho do parque impressiona, pois seus 843 mil hectares representam, aproximadamente, 1,4 milhão campos de futebol de tamanho oficial. “Esse plano serviu de base para a elaboração do Zoneamento Ecológico e Econômico do estado e para o Planejamento para a Conservação de Sítios, que definiu prioridades para a conservação da biodiversidade nessa parte da Amazônia”, informa Kelly. O Plano de Manejo, concluído em setembro de 1988, foi elaborado em parceria com a ONG The Nature Conservancy e com apoio da Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional (Usaid). “O documento é formado por seis encartes, com aproximadamente 700 páginas no total, e algumas informações podem ser encontradas no site da organização”, completa ela.


Capacidade técnica
e captação de recursos

Obviamente, o exercício desse tipo de atividade requer alta capacidade técnica ligada à causa abordada pela organização, fator cada vez mais necessário para o sucesso e sustentabilidade do Terceiro Setor. Está claro que as entidades sociais desprovidas de profissionalismo terão os desafios ainda maiores, uma vez que empresas, governos e a própria sociedade civil passam a cobrar resultados práticos, além de boa vontade e intenções. A SOS Amazônia vem se valendo do conhecimento técnico de seus colaboradores para ganhar o respeito da opinião pública, assim como o investimento contínuo em gestão administrativa e financeira transparentes e uma rede de parcerias que complementa e dá suporte às iniciativas.

A entidade é referência quando se fala de captação de recursos junto a organismos internacionais. Seus projetos contam com o apoio de diversas instituições, como Usaid, WWF Brasil, Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), Margot Mash Biodiversity Foundation, The Nature Conservancy, Embaixada dos Países Baixos, entre outras. A associação também mantém parcerias técnicas com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), governo do estado do Acre e com as prefeituras de Rio Branco e Cruzeiro do Sul. Mesmo com as conquistas na difícil arte de levantar recursos, Kelly Gouveia afirma que “os maiores desafios estão no campo da captação, pois não conseguimos ainda constituir um fundo institucional com doações particulares de empresas e indivíduos. Nossos recursos são em sua maior parte provenientes de projetos, com rubricas rígidas e específicas. A maioria dos doadores tem resistência ou limitação aos custos de manutenção das sedes e isso dificulta a tranqüilidade no sentido de conservar as equipes e gastos administrativos que os projetos demandam”. Ela aproveita para reforçar o coro daqueles que acreditam que a falta de diferenciação de carga tributária para o Terceiro Setor – os encargos trabalhistas são os mesmos de empresas com fins lucrativos – dificulta a aprovação de custos salariais por parte dos doadores estrangeiros, já que onera muito o valor do projeto.


Semente de esperança

A relevância das ações que a SOS Amazônia desenvolveu ao longo de sua existência tem propiciado o apoio e reconhecimento público de diversas instituições nacionais e internacionais. O esforço de fortalecimento da gestão institucional foi coroado com o Prêmio Bem Eficiente de 2004, concedido pela Kanitz e Associados. Firmar as bases sobre solo cada vez mais firme é fundamental para que a associação cumpra continuamente seu papel, desafiando grupos e movimentos totalmente focados no curto prazo. Dessa forma, inclusive, valorizam-se as vidas dedicadas à conscientização e proteção ambiental, assim como justiça social.

Esta matéria, manifestação de apoio àqueles que defendem os verdadeiros e nobres interesses da Floresta Amazônica, é uma homenagem a Chico Mendes e à Irmã Dorothy, religiosa assassinada recentemente aos 74 anos, possivelmente em função de sua luta pela distribuição de terras no Pará. Seu corpo foi sepultado às margens do rio Anapu, em uma área cercada de árvores frutíferas do sítio São Rafael, onde ela desenvolvia um projeto de educação ambiental e de reprodução de mudas de espécies nativas da Amazônia. Durante a cerimônia, o bispo da Prelazia do Xingu, Dom Erwin Krautler, disse, emocionado: “Irmã Dorothy não será enterrada. Irmã Dorothy será plantada para que sua luta dê muitos frutos”.

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