O elo entre o ontem e o amanhã

Por: Dal Marcondes
01 Janeiro 2011 - 00h00

O Brasil viveu mais eventos climáticos extremos em 2010 do que em qualquer outro ano de sua história. O ano começou com a destruição da cidade histórica de São Luiz do Paraitinga, em São Paulo, por conta das chuvas. Avançou com as inundações no Nordeste, que atingiram de forma impiedosa populações de Alagoas e Pernambuco, mas que também castigaram outros Estados da região.

Foram meses de discussões entre as autoridades, principalmente em relação à capacidade dos Estados de atuar nessas tragédias ambientais. As estruturas de defesa civil demonstraram grande capacidade de superação, e a solidariedade dos brasileiros de outros Estados tornaram menos sofridas as vidas de quem perdeu tudo.
No entanto, ficou claro que o país não pode mais depender de um modelo de defesa civil baseado em recursos locais para superar os eventos extremos que estão sendo cada vez mais frequentes.

Seca e queimadas

Há indícios de que os próximos anos vão surpreender as populações de quase todas as regiões com eventos climáticos dos mais díspares, como a seca na Amazônia, que baixa o nível dos rios e resseca a mata, criando condições para grandes incêndios florestais. Em 2010, o volume de queimadas na região foi recorde, maior do que a média entre 1998 e 2007, quando o fogo aumentou 59% na região. E essa situação coloca por terra todos os esforços do país para reduzir suas emissões de gases estufa.

O ano também deixou uma marca de morte no Centro Oeste e Sudeste do país, com uma das mais prolongadas secas que as regiões já viveram. A umidade relativa chegou a menos de 10% em muitos dias, o que levou aos hospitais milhares de crianças e idosos. Não houve um trabalho de divulgação sistemática dos atendimentos hospitalares e das mortes provocadas por essa situação, mas muitas notícias deram conta de óbitos e da lotação das emergências.

Ou seja, não houve região do Brasil que tenha ficado livre de problemas relacionados a eventos climáticos extremos. Da mesma forma que uma tempestade despeja o volume de água esperado em um mês em apenas uma tarde, a seca por meses a fio também é um evento extremo.

No Ano Internacional da Biodiversidade é preciso lembrar que a vida na Terra é um evento de milhões de espécies, e não apenas de humanos, e que o clima muda para todos. Enquanto a humanidade tem a presunção de usar a ciência e a tecnologia para mitigar os efeitos sobre as populações, nos últimos 15 anos aumentou em três vezes o número de espécies em risco de extinção, e algumas já são consideradas extintas na natureza.

Desertificação

No Nordeste aumenta grandemente o risco de desertificação do semiárido, com graves consequências para a segurança alimentar da região. Para minimizar os impactos das mudanças climáticas sobre a sociedade e a economia brasileira será preciso investir fortemente em dois aspectos.

O primeiro é fortalecer a capacidade de resposta das organizações de defesa civil, criando, talvez, uma Defesa Civil Nacional, capaz de mobilizar recursos das forças armadas e de corporações estaduais e, também, fazer um sistemático mapeamento das áreas de risco e tomar providências para minimizá-los.

Na outra ponta, é preciso investir na transformação da economia brasileira em uma economia de baixo carbono. Para isso, será preciso aplicar cerca de US$ 20 bilhões por ano até 2030, de acordo com uma pesquisa elaborada pelo Banco Mundial. Somente o setor energético terá de investir US$ 7 bilhões por ano para manter uma matriz de geração limpa, hoje baseada principalmente em hidrelétricas, mas que precisa incorporar a energia eólica e a solar. E isso representa imensas oportunidades de negócios.

A situação presente do Brasil é mais favorável à transição para uma nova economia baseada em produção de biomassas para energia, alimento e indústria do que qualquer outro país do mundo. A nação vive o elo entre o ontem, que se baseou em crescimento econômico às custas de exportação extrativista e de produtos primários, e o amanhã, que pode ser baseado em uma economia com forte enfoque em serviços, cultura, biodiversidade e tecnologias limpas. A atual geração é o elo entre esses dois modelos de desenvolvimento, com escolhas claras a serem feitas e com um potencial de riquezas a serem exploradas. As fórmulas do passado não servem mais, e as soluções do amanhã esperam para serem implantadas.

 

Dal Marcondes é diretor de redação da Envolverde, recebeu o Prêmio Ethos de Jornalismo em 2006 e 2008 e é Jornalista Amigo da Criança pela Agência Andi de Notícias.

 

 

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www.envolverde.org.br

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