O que é virtual?

Por: Marcio Zeppelini, Thaís Iannarelli
28 Outubro 2013 - 23h30

Entrei apressado no restaurante. Escolhi uma mesa bem afastada do movimento, pois queria aproveitar os poucos minutos que tinha para comer e responder alguns e-mails, além de planejar minha viagem de férias. Pedi um prato qualquer do cardápio e abri meu notebook. Escutei uma voz baixinha atrás de mim:

— Tio, dá um trocado?

— Não tenho, menino.

— Só uma moedinha para comprar um pão.

— Está bem, compro um para você.

Para variar, minha caixa de entrada estava lotada de e-mails. Fico distraído vendo o Facebook, dando risadas com as piadas malucas. Ah! Essa música... leva-me à Europa... e às boas lembranças de tempos idos.

— Tio, pede para colocar margarina e queijo também?

— OK, mas depois me deixe trabalhar, pois estou muito ocupado, tá?

Chega a minha refeição e, junto com ela, meu constrangimento. Faço o pedido do menino e o garçom me pergunta se quero que mande o garoto ir. Digo que não… que está tudo bem, ele pode ficar ali, aproveitando para pedir uma refeição decente a ele. Então, o menino se senta à minha frente e pergunta:

— Tio, o que está fazendo?

— Estou lendo uns e-mails.

— O que são e-mails?

— São mensagens eletrônicas mandadas por pessoas via Internet. É como se fosse uma carta, só que via Internet. — Sabia que ele não iria entender, mas a título de livrar-me de maiores questionários, tentei ser breve.

— Tio, você tem Internet?

— Tenho sim, é essencial no mundo de hoje.

— O que é Internet, tio?

— É um local no computador onde podemos ver e ouvir muitas coisas, notícias, músicas, conhecer pessoas, ler, escrever, sonhar, trabalhar, aprender. Tem tudo no mundo virtual.
— E o que é virtual, tio?

— Virtual é um local no qual imaginamos algo, mas não podemos pegar nem tocar. É lá que criamos um monte de coisas que gostaríamos de fazer. Criamos nossas fantasias e as transformamos em um mundo que queríamos que fosse real.

— Legal isso. Gostei!

— Mocinho, você entendeu o que é virtual?

— Sim, tio, eu também vivo neste mundo virtual.

— Você tem computador?

— Não, mas meu mundo também é desse jeito... Virtual. Minha mãe fica todo dia fora, só chega muito tarde, quase não a vejo. Eu fico cuidando do meu irmão pequeno que vive chorando de fome, e eu dou água para ele pensar que é sopa. Minha irmã mais velha sai todo dia, diz que vai vender o corpo, mas eu não entendo, pois ela sempre volta com o corpo do mesmo jeito... Meu pai está na cadeia há muito tempo. Mas sempre imagino nossa família toda junta em casa, muita comida, muitos brinquedos de Natal, e eu indo ao colégio para virar médico um dia. Isto não é virtual, tia?

Fechei meu notebook, não antes que as lágrimas caíssem sobre o teclado. Esperei que o menino terminasse literalmente de ‘devorar’ o prato dele, paguei a conta e dei o troco para o garoto, que me retribuiu com um dos mais belos e sinceros sorrisos que eu já recebi na vida, e com um ‘Brigadão tio, você é legal!’.

Ali, naquele instante, tive a maior prova do virtualismo insensato em que vivemos todos os dias, enquanto a realidade cruel rodeia de verdade, e fazemos de conta que não percebemos!

Vamos viver de experiências!

Confesso que o sujeito da história acima em muito se parece comigo… mas tenho diariamente praticado o exercício de transformar um dia qualquer em “O DIA”.
E isso se faz com experiências reais, não virtuais: Um passeio de bicicleta no parque da cidade, um “acampamento” no meio da sala com a filha pequena, um jantarzinho preparado pela filha mais velha, uma baladinha só com a esposa — sem os filhos — relembrando os tempos de namoro.

Torcer para o meu time deixou de ser um estorvo, depois que simplesmente parei de acompanhar a tabela, mas curtir um gol — sofrido ou ganhado! Um churrasco improvisado, uma sala compartilhada com o sócio (que também é irmão…) para nos deixar mais unidos, mesmo que as horas “não-virtuais” sejam poucas no escritório. Deixar a esteira elétrica de lado e correr em um lugar arborizado — ou na praia.

O mundo é feito de relações pessoais e reais. Claro que isso não me fará abandonar a tecnologia — que eu adoro —, até porque ela deixa a vida mais prática a fim de termos mais horas vagas e curtir as coisas simples que a vida oferece — longe do mundo virtual.

Nesta edição da Revista Filantropia, saiba quais são as medidas já tomadas na história do nosso país para proteger crianças e adolescentes, assim como o menino da história.
Tenha um excelente e REAL final de semana!

Abraços sustentáveis,

Boa leitura!

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