“Momentos depois das dezesseis badaladas do dia 19 de agosto, um homem tentava fazer algumas ligações pelo seu telefone celular buscando socorro. Em Bagdá, soterrado em escombros resultantes de uma ação terrorista ao prédio da ONU, o brasileiro Sérgio Vieira de Mello não resistiu aos ferimentos e morreu em uma missão de paz, antes mesmo de o resgate chegar.O chefe da representação da ONU no Iraque pós-guerra havia falado poucas horas antes com o líder mundial da organização e amigo pessoal, Kofi Annan, a quem transmitiu confiança e otimismo em mais uma missão em que ele liderava.Nascido no Rio de Janeiro, Sérgio era um cidadão do mundo. Diga-se de passagem, um cidadão da paz ou, ainda, um “soldado da paz”. Um soldado que militava em prol das alianças diplomáticas, adepto da conversa em busca de resoluções pacíficas, um ouvinte atento e um conciliador nato. Foi assim que ele trilhou seus 34 anos de trabalho na ONU que, entre outras missões, ajudou o Líbano, a Ruanda e o Kosovo, na antiga Iugoslávia. Foi com todo esse jogo de cintura típico de sua personalidade que reconstruiu um país do zero – o Timor Leste, em 1999, negociando com os líderes locais e acabando com a intransigência da Indonésia.Dito por Joaquim Osório Estrada, “se ergues da Justiça a clava forte, verás que um filho teu não foge à luta”, Vieira de Mello levou a estrofe à risca, mas foi além: atravessou as fronteiras do impávido colosso, arregaçando as mangas para o mundo – e lutando por sua paz nos quatro cantos do planeta.Após seu sepultamento, chegou a ser indicado ao Prêmio Nobel da Paz, mas a nomeação ficou impedida por ser póstuma. Nomeado ou não, seis bilhões de terráqueos agradecem sua estada conosco, pelas grandes conquistas que a humanidade alcançou resultantes da sua diplomacia e por sua “fome de paz”.Nossa pomba branca levantou vôo na Cidade Maravilhosa, sobrevoou toda a órbita terrestre e deitou em seu leito de morte no Oriente Médio. Orgulhamo-nos de saber que essa pomba era tupiniquim e que demais representantes da ONU e outras organizações pró-paz seguirão seus passos por muito tempo.Sérgio, descanse agora da forma que você sonhou um dia ver o mundo: em paz!