Voluntariado e Organizações Focadas Em Pessoas Com Deficiência Intelectual

Por: Silvia Naccache, Rose Magalhães Da Fonte
11 Novembro 2014 - 00h00

Conheça a experiência da APAE de São Paulo

Embora suas ações já fossem praticadas antes mesmo que a organização existisse, foi em 1971 que o voluntariado da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de São Paulo (APAE de São Paulo) organizou-se de forma mais estruturada. A iniciativa nasceu por meio de D. Jô Clemente, conhecedora da importância do trabalho voluntário para ações que faziam a diferença no dia a dia da organização. Em 2014, o serviço de voluntariado completou 43 anos de existência. Destaca-se que os quatro casais que fundaram a organização, em 1961, já eram voluntários. Até hoje, todos os membros da Diretoria e do Conselho de Administração continuam trabalhando como voluntários.

O voluntariado foi, desde o início, estruturado em níveis hierárquicos, departamentos específicos e divisão de tarefas; a partir de 1990 foi incrementando e, em 2006, passou a ser gerido por uma diretoria colegiada constituída por oito voluntários experientes e bastante atuantes na organização. Após nova reflexão e acompanhando as tendências do trabalho voluntário no Brasil, concluiu-se que a gestão do Serviço de Voluntariado da organização deveria ser profissionalizada, com o desafio de alinhar e direcionar o trabalho desenvolvido pelos voluntários em sintonia com os valores, a visão e a missão da APAE de São Paulo.
A gestão profissionalizada do programa de voluntariado da APAE de São Paulo tem a responsabilidade de: acolher, sensibilizar e motivar; possuir um ouvido atento; proporcionar atualização e desenvolvimento.

ACOLHER

O acolhimento é fundamental ao ser humano, uma vez que todos nós possuímos uma necessidade psicológica profunda de pertencer. Há alguns anos, o jornal New York Times publicou uma história de interesse humano sob o título “Ele gostaria de pertencer”. O artigo falava de um menino que viajava de ônibus na cidade. Ele estava ali sentado perto de uma senhora vestida de cinza. Naturalmente, todo mundo pensava que ele estava com ela. Não é de admirar então que ao esfregar os sapatos sujos em uma mulher sentada do outro lado dele, ela disse à senhora de cinza: ‘Desculpe, mas quer fazer seu filho tirar os pés do banco? Os sapatos dele estão sujando meu vestido’. A mulher de cinza ficou vermelha. Depois, deu um pequeno empurrão no menino e falou: ‘Ele não é meu filho. Nunca o vi antes’. O menino se encolheu todo. Era tão pequeno, com os pés balançando por não alcançarem o chão. Baixou os olhos e tentou desesperadamente conter um soluço. ‘Sinto muito ter sujado seu vestido’, disse ele à mulher, ‘eu não queria fazer isso’. ‘Ah, não faz mal’, respondeu ela meio embaraçada. Depois, como os olhos dele ainda estavam pregados nela, acrescentou: ‘Você vai a algum lugar sozinho?’. ‘Sim’, ele acenou com a cabeça. ‘Sempre ando sozinho. Não tenho ninguém. Não tenho mãe nem pai. Os dois morreram. Eu vivo com a tia Clara, mas ela diz que a tia Odete devia tomar conta de mim parte do tempo. Quando ela fica cansada de mim e quer ir a algum lugar, ela me manda ficar com a tia Odete’. ‘Você então está indo para a casa da tia Odete agora?’, disse a mulher. ‘Sim’, replicou o garoto, ‘mas algumas vezes a tia Odete não está em casa. Espero que esteja hoje, porque parece que vai chover e eu não quero ficar na rua na chuva’. A mulher sentiu um nó na garganta enquanto dizia: ‘Você ainda é muito pequeno para ficar indo de cá para lá desse jeito’. ‘Oh, não me importo’, respondeu. ‘Nunca me perco. Mas às vezes fico triste. Quando eu vejo então alguém a quem gostaria de pertencer, eu sento bem perto da pessoa e faço de conta que pertenço de verdade a ela. Eu estava fazendo de conta que pertencia a esta outra senhora quando sujei seu vestido. Esqueci-me de meus pés’. Esse garoto, em suas palavras simples e infantis, expressou uma necessidade universal: não importa quem ele é nem qual a sua idade: todos querem pertencer. A sensação de pertencer é essencial para o ser humano.

APAE

SENSIBILIZAR E MOTIVAR

Partindo do princípio de que “todo mundo é nota dez em alguma coisa”, entendemos que “fazer o que se gosta” é fundamental para a realização do trabalho voluntário, desde que seja de forma coerente com a motivação. Cada pessoa tem valores próprios, construídos ao longo da vida, que podem representar uma motivação. Por outro lado, a APAE de São Paulo valoriza, estimula e reconhece o voluntário para que ele também se sinta motivado a continuar atuando. Sendo assim, questionamos: o que cada um gostaria de fazer? Quais seus valores pessoais? Que habilidades ou talentos deseja oferecer? Qual a disponibilidade de tempo? Para ser direcionado às atividades que irá exercer na organização, onde será acolhido e direcionado por um responsável do serviço no qual irá atuar, é necessário ter em mente tais perguntas.

POSSUIR UM OUVIDO ATENTO

Um dos ingredientes importantes é o cultivo de um ouvido atento. Quem ouve mal não é um bom comunicador. O que nós geralmente chamamos de ouvido é apenas o ouvido externo, aquela saliência de carne que temos no lado da cabeça e que vem em uma variedade de formas e tamanhos. A partir dela sai um canal de três centímetros que vai dar no tímpano, atrás do qual se encontra o ouvido médio, onde o som é amplificado 22 vezes, passando-o então para o ouvido interno, onde ocorre o verdadeiro ouvir. Seu principal componente é um tubo em forma de caracol, chamado cóclea. Ele contém milhares de células microscópicas, semelhantes a um fio de cabelo, sendo que cada uma delas é sintonizada com uma vibração específica. Então, as vibrações são convertidas em impulsos elétricos que transmitem o som até o cérebro para serem decodificados ao longo de 30.000 circuitos do nervo auditivo.
É fundamental que este órgão seja utilizado de maneira adequada, ou seja, para cada vez mais desenvolver a capacidade de ouvir, e ouvir atentamente. Somente quando falamos e ouvimos uns aos outros é que os nossos relacionamentos progridem e amadurecem. Abrir os ouvidos ao outro é um sinal de respeito. Ouvimos uma vez a seguinte frase “ele é um ótimo comunicador, ele ouve”. Logo, ouvir será uma competência importante para o bom desenvolvimento do seu trabalho, pois, ao ouvir, poderá entender de forma clara e contribuir com suas opiniões e sugestões.

PROMOVER A ATUALIZAÇÃO E O DESENVOLVIMENTO

Capacitações e orientações contínuas fazem parte dos processos de monitoramento dos voluntários. Todos são convidados a participar de curso de atualização com temas relevantes sobre a deficiência intelectual, tais como: direitos da pessoa com deficiência, inclusão e educação nas APAEs, o teste do pezinho e suas atualidades, fluxo de atendimento nos ambulatórios de diagnóstico, o papel da avaliação neuropsicológica no diagnóstico de deficiência intelectual, investigação genética na deficiência intelectual, violência e violação de direitos para as pessoas com deficiência, o envelhecimento e a deficiência, serviços de apoio ao envelhecimento oferecidos pela APAE. As atividades promovem um voluntariado sadio e bem informado; além das palestras, são oferecidas oficinas e espaço para trocas de experiências.
O número de voluntários que a APAE de São Paulo precisava no período de maio a agosto deste ano era de 38 pessoas. Por meio de divulgação e captação, acolhemos 20 novos voluntários, fechando o mês de agosto com 204 voluntários que dedicaram 8.124 horas. Destas 8.124 horas doadas, 568 horas foram em atividades pontuais e eventos.
As divulgações de vagas são contínuas e realizadas por meio de redes sociais, entre os próprios voluntários, em sites de vagas para voluntários, como do Centro de Voluntariado de São Paulo (CVSP).
O maior desafio é conseguir voluntários para os espaços que ficam mais distantes do centro da cidade, como o Núcleo de Habilitação e Estimulação de Parelheiros.

PREMISSAS PARA O VOLUNTARIADO NA APAE SP

  • ser maior de 18 anos;
  • ter disponibilidade mínima de 4 horas semanais em horário comercial (segunda a sexta-feira, das 8h às 12h ou das 13h às 17h);
  • ter disposição, comprometimento e espírito de equipe;
  • assistir à palestra do CVSP e apresentar o certificado;
  • participar da visita institucional e assistir à palestra do Serviço de Voluntariado da APAE de São Paulo;
  • participar da entrevista e ser e aprovado pela supervisora do voluntariado da APAE de São Paulo
  • ser encaminhado à atividade mais adequada ao perfil, quando houver.
  • identificar-se com a missão da APAE de São Paulo — missão: promover a prevenção e a inclusão da pessoa com deficiência intelectual produzindo e difundindo conhecimento; visão de futuro: ser a referência na prevenção, inclusão social e na geração de difusão de conhecimento sobre deficiência intelectual.

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