Sem Perder a Essência

Por: Luciano Guimarães
05 Maio 2015 - 20h49

Diversas organizações sociais brasileiras já começaram a trilhar o caminho da profissionalização da área de Recursos Humanos

Embora reduzido, o número de entidades do Terceiro Setor que adotaram diretrizes para tornar mais profissionais as atividades de seus departamentos de RH tem crescido ano após ano e sido decisivo para o desenvolvimento do trabalho realizado pelos gestores.

Em meio às mudanças geradas no modelo de administração de determinadas ONGs, destacadamente as maiores e mais estruturadas, o estabelecimento de políticas de cargos e salários já faz parte do cotidiano de uma pequena – porém considerável – parcela de instituições.

Em decorrência deste movimento tornou-se comum a migração de profissionais do setor privado para o social. No Instituto Ayrton Senna (IAS), por exemplo, em torno de 70% da equipe é proveniente de grandes empresas de diferentes segmentos.

Paralelamente, foi diminuindo o espaço para a participação de voluntários. A entidade, inclusive, optou, atualmente, por ter uma equipe contratada para garantir uniformidade do perfil e formação dos profissionais necessários para atender às atuais demandas e desafios da organização.

“Assim, quem chega vem motivado pela credibilidade, seriedade, profissionalismo e pela causa da educação, e se surpreende positivamente quando se depara com nossa estrutura e modelo de gestão”, explica a gerente-executiva de RH do IAS, Silvia Espesani, ela mesma um exemplo de profissional recrutada por um headhunters.
 
“Apesar de ocupar uma posição de diretora de RH, com remuneração e benefícios atrativos, eu não estava feliz com o ambiente e com o modelo de gestão. Na época, já questionava o meu momento profissional. Eu tinha pouca informação sobre o que fazia o Instituto Ayrton Senna, mas quando fui entrevistada pela Viviane Senna, tomei conhecimento da dimensão e do impacto em escala do trabalho desenvolvido”, conta.

Segundo Silvia, já é notória a existência de um movimento e o interesse de instituições em se estruturarem melhor, a partir da concepção de uma área de RH. Mas também parece ser uma realidade que esses departamentos são núcleos pequenos, que muitas vezes concentram múltiplas funções em um único profissional, no papel de generalista. “Ainda assim, acho que é um movimento tímido, e com raras exceções, se houver, tendo à frente um diretor de RH”, afirma.

Por ter esta visão, a gerente-executiva de RH do Instituto Ayrton Senna acredita que há um interesse crescente de profissionais, muitos jovens, de segmentos distintos, que querem algo maior do que um bom emprego e um bom salario. “São jovens mais conscientes, que buscam um significado, desejam contribuir para uma causa maior, pela transformação da sociedade de alguma maneira”, enfatiza.

Ao mesmo tempo, reforça Silvia, por serem profissionais com excelente formação acadêmica, alguns com experiências internacionais, em alguma medida eles abrem mão de remuneração variável ou benefícios mais competitivos, mas ainda assim não perdem de vista as perspectivas de carreira que são oferecidas pelas instituições ou fundações. Este cenário exige práticas consistentes de RH em atração e retenção desses profissionais.

Além da gerente-executiva de RH, este departamento do IAS tem ainda outros quatro profissionais – um analista de remuneração, um coordenador de comunicação interna, um analista de administração de pessoal e benefícios e um analista de recrutamento e seleção e T&D.

Em outra frente, o superintendente de desenvolvimento humano e organizacional da AACD, Claudio Collantonio, argumenta que comparativamente, o profissional de RH no Terceiro Setor tem conhecimento e desempenho equiparado ao mercado corporativo, contudo, enfrenta dificuldades maiores para promover ações inovadoras e de extrema relação motivacional ao quadro de colaboradores. “Há sim uma defasagem da aplicação de ferramentas de gestão de pessoas no 3º setor comparativamente aos de mais setores.”

cargos-salarios
Departamento de RH do Instituto Ayrton Senna

CARGOS E SALÁRIOS

Assunto dos mais espinhosos debatidos no Terceiro Setor e que volta e meia entra na pauta das organizações sociais, a criação de uma política de cargos e salários vem ganhando cada vez mais espaço nos últimos anos, com o crescimento da profissionalização.

Mesmo quando se menciona a importância do voluntariado para o sucesso da entidade, busca-se dimensionar o impacto dessa força de trabalho –movida pelo “sentimento” —, na geração de resultados bastante positivos. “Contudo, no voluntariado, ainda carecemos de profissionalização, ou seja, nem tudo pode e nem tudo deve ser feito pelo “sentimento”. A razão deve complementar a ação voluntária para garantir uma atividade eficaz e resoluta”, pondera Claudio Collantonio, da AACD, entidade cujo RH engloba 34 profissionais das áreas de administração de pessoal, gestão de pessoas, segurança & medicina do trabalho.

Segundo ele, o engajamento da gestão de RH com a causa da instituição deve ser o “plus”. O colaborador contratado é um profissional de mercado, ele quer salário e benefícios competitivos, capacitação e reconhecimento pelo desempenho. “A gestão de pessoas deve promover ações motivacionais e reter os talentos. E, quando fazemos isso de forma competitiva com o mercado, estamos sim destinando o melhor à causa da Instituição”, comenta Collantonio.

De acordo com a gerente-executiva de RH do IAS, Silvia Espesani, hoje existem algumas realidades distintas, porque muitas fundações têm suas políticas e gestão de RH integradas às políticas das corporações. “Este é o caso da Fundação Itaú Unibanco, Fundação Victor Civita, Instituto Natura, entre outras. Então, a estrutura salarial dos profissionais dessas fundações é a mesma dos demais colaboradores da empresa a que estão vinculadas.”

No caso do Instituto Ayrton Senna, explica a executiva, as práticas de remuneração são compatíveis com o mercado da iniciativa privada, porque os profissionais contratados, em sua maioria, vêm desse setor.

Recentemente, o IAS implantou uma política de remuneração, que contou com o apoio de uma das maiores consultorias globais em remuneração, a Hay Group, que imediatamente ofereceu para o Instituto Ayrton Senna pro bono para parte do projeto de remuneração. “Hoje, nossa política de cargos e salários compete com um painel expressivo de empresas de grande porte, como Ambev, Natura, Algar, Votorantim, entre outras”, enfatiza Silvia.

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