Reaproveitar para combater o desperdício

Por: Instituto Filantropia
15 Abril 2013 - 20h45

Grandes ou pequenas, mais ou menos abrangentes, ações voltadas a combater qualquer tipo de desperdício vêm se espalhando como rastilho de pólvora em todo o Brasil

Nos últimos anos, empresas e entidades sem fins lucrativos têm se engajado em diversos tipos de projetos e programas com a intenção de reutilizar. As opções são diversas, indo do reaproveitamento de alimentos ao recolhimento de eletrônicos, pilhas e baterias de celulares.
Em maior escala, encontram-se também ideias bem boladas, como a fabricação de materiais compostos utilizando pneus para complementar a mistura da massa asfáltica e entulho na composição de blocos.
A Ecovias, por exemplo, já utiliza asfalto borracha (ou ecológico) produzido por usina própria em 70% dos 176,8 km de extensão do Sistema Anchieta-Imigrantes (SAI), do qual é concessionária. De 2002, quando iniciou os testes, para cá, já retirou 317 mil pneus em desuso da natureza.
A borracha dos pneus triturados é misturada à massa asfáltica, a qual se acrescenta também brita e cal, produzindo um concreto asfáltico cerca de 40% mais resistente que o produto convencional em relação a trincas e deformações.
“O material provoca menos ruídos e tem maior aderência, fator que diminui a possibilidade de derrapagem e reduz o spray causado pelos pneus dos veículos em dias de chuva, além de maior conforto e segurança aos usuários”, explica Paulo Rosa, assessor de projetos especiais da concessionária.
A usina da Ecovias tem capacidade para produzir até 140 toneladas de material por hora, o suficiente para asfaltar aproximadamente 330 metros de uma faixa de rodagem de 5 centímetros de espessura.
Além das rodovias do SAI, por onde circulam 30 milhões de veículos anualmente, o asfalto borracha também está presente em alguns trechos das rodovias SP 070 (Ecopistas), BR 277 (Ecocataratas), BR 277 (Ecovia) e BR 116 (Ecosul), que fazem parte do Grupo Ecorodovias.
Eletrônicos
Outro gargalo que vem engolindo o meio ambiente está na complicada destinação de eletrônicos e seus componentes, itens cada vez mais comuns na vida dos brasileiros. São milhões de toneladas de microcomputadores, impressoras, TVs, rádios, celulares e baterias de lítio e pilhas, entre outros, descartadas anualmente, em terrenos baldios, córregos, esgotos, lagoas e até no mar.
Ações para impedir parte do problema estão tomando corpo também em alguns setores do setor público. No início de setembro de 2012, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) fixou normas para controle, uso, descarte, transporte e reciclagem de pilhas e baterias.
O objetivo é impedir que este tipo de material, composto por substâncias perigosas à saúde e ao meio ambiente, como mercúrio, cádmio, chumbo, zinco-manganês e alcalino-manganês, cheguem à natureza.
Com as novas regras do Ibama, o material deve ser descartado em coletas seletivas próprias, geralmente encontradas em postos de venda e em fábricas. Nesses locais, os recipientes de lixo destinados a pilhas e baterias devem apresentar um símbolo para facilitar a coleta e evitar a mistura com outros resíduos.
Ainda na seara do lixo eletrônico, há iniciativas bastante positivas. Desde o final de 2009, a Universidade de São Paulo (USP) mantém o Centro de Descarte e Reúso de Resíduos de Informática (Cedir), que implementa práticas de reúso e descarte sustentável de lixo eletrônico, incluindo bens de informática e telecomunicações obsoletos. O local fica em um galpão de 400 metros quadrados e pode receber entre 500 e 1.000 equipamentos por mês.
O engajamento se torna ainda mais forte quando existem parcerias envolvidas, como a promovida entre a USP e o Instituto GEA, OSCIP ligada ao desenvolvimento da cidadania e da educação ambiental sediada na cidade de São Paulo que assessora a população a implantar programas de coleta seletiva de lixo e reciclagem.
Em novembro de 2012, por exemplo, formaram 182 catadores de 63 cooperativas de cidades paulistas e mineiras, que participaram do Projeto Eco-Eletro, ocasião em que foram capacitados a processar a reciclagem de resíduos eletrônicos. Realmente são números robustos para um país que ainda engatinha no reaproveitamento de materiais eletrônicos.
A professora Tereza Cristina Carvalho, assessora de projetos especiais da Coordenadoria de Tecnologia da Informação (CTI) da USP, explica que na maioria dos casos, por falta de informação, os catadores descartam da reciclagem componentes preciosos, como as placas, pois ignoram seu valor comercial. “Sem esse cuidado, esse material acabará em um lixão, algo bastante problemático, pois muitos desses materiais são poluentes”.
Outro projeto do Instituto GEA, o Programa Eco Reciclagem, de coleta seletiva, vem sendo desenvolvido no Shopping Pátio Higienópolis. Lançado em abril do ano passado, já mandou 104 toneladas de materiais para reciclagem, que foram doadas à Cooperativa de Catadores Nova Esperança com o objetivo de elevar significativamente a renda dos seus cooperados.
“Estamos bastante esperançosas com a implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos. Promulgada em 2010, a lei deu prazo de quatro anos para que as empresas, os governos municipais e a população se ajustassem. Se em 2014 ela for realmente colocada em prática, teremos um grande avanço na coleta seletiva no país”, argumenta a presidente do Instituto GEA, Ana Maria Domingues Luz.
Desperdício de alimentos
Um dos principais problemas enfrentados em boa parte do mundo, quando a fome assola milhões de pessoas, o desperdício de alimentos vem sendo combatido em diversas frentes. São campanhas pelo aproveitamento máximo dos produtos, de partes que antes iam para o lixo, mas que podem fazer a diferença nutricional no cardápio das famílias de baixa renda.
Segundo o Banco de Alimentos, ONG fundada em 1998 pela economista Luciana Chinaglia Quintão e que atua sob o conceito de “Colheita Urbana”, o volume de alimentos jogados no lixo diariamente poderia matar a fome e reverter a carência nutricional de milhões de pessoas.
“O Brasil é o quarto maior produtor mundial de alimentos, com 126% das suas necessidades alimentícias. De toda essa riqueza, desperdiçam-se 26,3 milhões de toneladas de alimentos ao ano, o suficiente para alimentar 35 milhões de brasileiros por mês. Somente em hortaliças são desperdiçados, por pessoa e anualmente, 37 quilos, ou seja, cerca de 35% de todas as hortaliças que produzimos”, ressalta.
A entidade, que atende atualmente 51 instituições sociais e aproximadamente 22 mil pessoas, distribui alimentos fornecidos pelas empresas doadoras entre as instituições beneficentes cadastradas, possibilitando a complementação alimentar de todas as pessoas assistidas pelas instituições. Cerca de 5 milhões de refeições já foram complementadas.
Basicamente, a ONG trabalha pelo aproveitamento de partes não convencionais dos alimentos, como folhas de cenoura, beterraba, batata doce, nabo, couve-flor, abóbora, mostarda, hortelã e rabanete; cascas de batata inglesa, banana, tangerina, laranja, mamão, pepino, maçã, abacaxi, berinjela, beterraba, melão, maracujá, goiaba, manga, abóbora, além de talos de couve-flor, brócolis e beterraba; entrecascas de melancia e maracujá; sementes de abóbora, melão e jaca; nata; pés e pescoço de galinha; e tutano de boi. Essas partes dos alimentos fornecem muito mais nutrientes do que as convencionais. A casca da laranja tem 604% mais fibras do que a polpa, enquanto a rama da cenoura possui 306% mais cálcio do que o próprio legume.
O esquema logístico de busca, coleta, transporte e limpeza dos alimentos funciona como relógio. Após a doação daquilo que não foi vendido, mas está em perfeitas condições de consumo, os alimentos vão direto para instituições receptoras, levados por veículos adaptados para o transporte de alimentos.
A distribuição é realizada levando-se em consideração as características de cada instituição, como número de pessoas e público atendidos, seja albergue, hospital, casa de apoio, associação de adolescentes, asilo ou creche. De acordo com a ONG, as distribuições ocorrem preferencialmente à tarde, no mesmo dia da coleta, uma vez que hortifrutis são altamente perecíveis e a entidade não estoca alimentos industrializados.
Ao desperdiçarmos toneladas de alimentos diariamente, contribuímos para a degradação econômica e social do nosso país, prejudicando a saúde de milhões de pessoas, cidadãos que sofrem com a irracionalidade do desperdício.
Independentemente do tipo de programa que ajude a evitar o desperdício de alimentos, o descarte inadequado de equipamentos e de materiais poluentes, é certo que a visão sobre a importância de medidas dessa magnitude se torna cada vez mais presente no dia a dia do brasileiro, assim como já ocorre há muito tempo no exterior.

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