O Que Você Precisa Está Fora Da Caixa

Por: Paula Craveiro
21 Janeiro 2017 - 00h00

Conseguir recursos é uma preocupação recorrente para qualquer organização. Mas, para realizar essa atividade e obter sucesso, é preciso planejamento e uma boa dose de inovação e criatividade

Nas últimas edições da Revista Filantropia, o tema captação de recursos tem surgido com grande frequência, seja em matérias ou em artigos, indicando o quão importante essa atividade é para a manutenção e para a sustentabilidade das organizações sociais.

É fato incontestável que toda ONG precisa de recursos para se manter em atividade. Com exceção dos institutos corporativos e das fundações familiares, que têm orçamentos próprios previamente garantidos, a maioria das entidades necessita desenvolver estratégias específicas para trazer recursos – principalmente dinheiro – a fim de ser capaz de cumprir a sua missão e ter impacto real na comunidade em que atua.

Na teoria, captação de recursos é o processo estruturado desenvolvido por uma organização para solicitar de indivíduos, empresas, governos, organizações parceiras, entre outras possibilidades, as contribuições de que ela precisa, sejam financeiras, materiais, de voluntariado ou outros recursos. Na prática, significa ter uma equipe dedicada para buscar, por meio de ideias criativas e inovadoras, soluções para se trazer as doações, aproximar a organização da sociedade, defender que ela seja o mais transparente possível em suas ações e prestação de contas etc.

"Captar recursos é, acima de tudo, ter em sua organização pessoas que entendam que o trabalho delas é fundamental para a obtenção de doações, que são muito importantes para que a ONG tenha impacto e seja transformadora em sua atuação, cumprindo integralmente sua missão", afirma João Paulo Vergueiro, diretor executivo da Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR). "Assim, saber captar é uma competência estratégica e fundamental para a sustentabilidade das ONGs e, ao menos em tese, não deveria haver uma única organização da sociedade civil sem um plano de captação e pelo menos um profissional responsável por priorizar o assunto", ele completa.

Recursos A Serem Captados

São muitos os tipos de recursos que um captador pode conseguir para a sua organização social, como: recursos materiais, o que pode incluir equipamentos, mobiliário, produtos, imóvel etc.; serviços, que podem ser prestados de modo gratuito (pro bono) por uma agência de relações públicas ou de publicidade, ou uma empresa de tecnologia que dê suporte aos computadores da entidade, ou uma fábrica de fraldas que faça doações para uma creche, entre outras possibilidades; e recursos humanos, por meio de voluntariado ou de contratação de profissionais. No entanto, os recursos financeiros são, evidentemente, os mais necessários para a manutenção da ONG e de sua estratégia de atuação.

"Não existe projeto ou ONG se não houver recursos. A sustentabilidade da organização depende disso. Como executar sua missão? Como sustentar a estrutura? Como manter e ampliar sua capacidade de atuação? Captar recursos é uma necessidade para qualquer ente do Terceiro Setor", explica Ana Levy, especialista em estratégia de retenção e relacionamento com doador pessoa física.

 

Captação de recursos não é apenas sobre levantamento de fundos. Trata-se de compreender as motivações dos doadores e construir relacionamentos. É sobre o doador e não sobre a sua organização A necessidade é a mãe da inovação

Reinier Spruit

 

 

Não Dá Mais Para "passar O Chapéu"

Entra ano, sai ano, e as ONGs – mesmo aquelas que contam com o apoio de uma equipe especializada em captação – continuam a enfrentar uma série de problemas na hora de buscar os recursos necessários para a sua manutenção e para a continuidade de seus projetos.

Não bastasse a costumeira dificuldade para se ter acesso às fontes de financiamento – ampliada por questões como a atual crise econômica enfrentada pelo país, que tem limitado consideravelmente o investimento de empresas e de pessoas físicas em projetos socioambientais –, o processo de captação passa, muitas vezes, pelo obstáculo da falta de criatividade na hora de pedir. Essa criatividade não se limita a criar layouts "bonitinhos" ou produzir mensagens tocantes, embora isso também faça parte.

Hoje em dia, a ideia de "passar o chapéu" perdeu seu sentido, especialmente quando falamos sobre a arrecadação de grandes valores. Com o Terceiro Setor cada vez mais profissionalizado, utilizando processos de gestão muito semelhantes aos incorporados no dia a dia de grandes companhias, é preciso muito mais do que "pedir" para conseguir o que se deseja; é preciso encontrar ou, se não houver, criar novos meios para fazer acontecer.


A necessidade é a mãe da inovação

Platão

 

 

Os "Bons E Velhos" Meios De Captação

Para alcançar seus objetivos, uma grande parcela das organizações sociais – se não todas elas – recorre a meios e fontes tradicionais para captar os recursos de que necessita. Há aquelas que promovem bingos beneficentes, realizam almoços ou jantares para reunir seus doadores, enquanto outras tantas optam pela venda de rifas como forma de angariar fundos para seus projetos. Muitas, ainda, têm recorrido aos projetos de geração de renda própria por meio da produção e comercialização de seus produtos. Existe um grande leque de possibilidades quando o assunto é captação. No entanto, essas opções muitas vezes caem no "mais do mesmo" e, não raro, perdem parte de sua força de convencimento na hora de atrair doadores e doações.

Segundo os especialistas consultados pela Revista Filantropia, os meios mais frequentemente utilizados pelas entidades do Terceiro Setor na busca por recursos são:

  • Pessoas físicas: para Tahiana D'Egmont, CEO da Kickante, as pessoas precisam ser motivadas a doar. "Para que essa ação seja frequentemente realizada, é preciso que as organizações sociais criem um vínculo com o doador de maneira gradativa, apresentando seu trabalho, as transformações realizadas na vida do público que ela assiste e seus projetos atuais e futuros. É preciso convidar o doador a fazer parte da instituição, para que ele possa se sentir parte da solução e, assim, compreender a relevância da atuação da ONG e do papel que ela desempenha", explica.
  • Instituição: os colaboradores da instituição também devem ser engajados em seu projeto de captação, aponta a CEO. Afinal, eles conhecem com propriedade a ONG e são as pessoas mais capacitadas para "vender" o projeto social e atrair ainda mais doadores. "Peça que eles falem sobre o projeto de captação para seus familiares, amigos e contatos, que compartilhem informações sobre a instituição em suas redes sociais, e que disseminem para o maior número de pessoas os projetos e as necessidades da entidade".
  • Empresas: recorrer a empresas é sempre uma boa solução para captar recursos materiais, técnicos, entre outros. Por meio de parcerias, as empresas podem auxiliar sua causa ao doar dinheiro para a manutenção de seus projetos, oferecer capacitação aos seus voluntários e colaboradores, ou mesmo criar grupos de voluntariado interno.
  • Eventos: essa é uma ótima maneira de promover o trabalho de uma instituição, arrecadar recursos e integrar a comunidade. "Os eventos podem ser realizados em datas comemorativas ou criados de acordo com a necessidade da organização social e da comunidade. Mas seu planejamento deve ser feito com meses de antecedência, a fim de que haja tempo suficiente para organizar todos os detalhes, divulgar e entrar em contato com o maior número de doadores possível", ressalta Tahiana.
  • Venda de produtos ou serviços: é uma das formas de captação mais utilizadas pelas organizações atualmente, já que os produtos podem ser confeccionados pela própria instituição, por meio de oficinas e de projetos para a comunidade. Com isso, muitos talentos podem ser descobertos e aproveitados em prol da própria ONG. "Há várias formas de fazê-lo, como estruturar serviços que a organização possa oferecer ao setor e no que seja bom em realizar. Há também muitas organizações que mantêm oficinas de panificação, cerâmica, costura etc., e vendem esses produtos para a comunidade. Ao começar a gerar renda por conta própria, diminuindo a dependência das doações, é fundamental contar com um bom apoio jurídico e contábil", destaca Vergueiro, da ABCR.
  • Mala direta e telemarketing: é uma das ferramentas mais antigas de captação utilizadas pelas organizações. Mas é preciso analisar detalhadamente o tipo de abordagem e como será o contato com os doadores. Para cada projeto social é necessária uma abordagem diferente. No primeiro contato, pode-se utilizar a mala direta, pois é uma forma menos invasiva, na qual é possível apresentar rapidamente a missão da ONG. Já o telefone é mais indicado quando o doador possui conhecimento prévio sobre a instituição, ficando, então, mais fácil conseguir captar recursos.
  • E-mail marketing: modo mais rápido de impactar um grande número de doadores, e também o que geralmente possui o resultado em captação quase imediato. Porém, é necessário criar um vínculo com o doador. Envie e-mails periódicos informando sobre os projetos sociais da sua organização, o impacto e a transformação na vida dos assistidos e, claro, também peça doações. Não tenha receio de pedir, mas analise bem qual abordagem será utilizada.
  • Arrecadação face-to-face: é a arrecadação cara a cara. Tem sido cada vez mais comum encontrar essa iniciativa nas ruas das grandes cidades do Brasil. São abordagens feitas por voluntários, cujo objetivo é explicar à pessoa abordada a importância da causa defendida pela ONG, e perguntar se ela gostaria de se tornar um doador. Organizações como Fundação Abrinq, Greenpeace e Unicef são adeptos dessa prática.

É inegável que tudo isso dá retorno – se não desse, não haveria razão para tantas organizações insistirem nessas fórmulas. No entanto, hoje em dia é preciso de mais, muito mais, para se conseguir chegar aos recursos desejados e garantir a tão sonhada sustentabilidade.

Quase 100% das inovações são inspiradas não por análises de mercado, mas por pessoas insatisfeitas com o estado atual das coisas

Tom Peters



Seja Criativo E Busque Novas Fontes De Financiamento

Ter várias fontes da captação favorece, e muito, as organizações, uma vez que elas se tornam menos dependentes de alguns poucos financiadores, o que traz segurança em momentos de crise e auxilia no processo de planejamento.

"Muitas ONGs estão sentindo na pele os impactos da dependência excessiva de poucos financiadores, como aquelas que têm mais de 60% de seus recursos provenientes de governos ou de empresas. Com a crise que atinge o Brasil, vieram os cortes e, hoje, muitas estão tendo de reduzir drasticamente suas operações e buscar alternativas criativas para superar isso", afirma Ana Levy.

Trabalhar com doações regulares (mensais, semestrais, anuais) de pessoas físicas, mesmo que em pequenos valores, é sempre um bom caminho a ser seguido, pois, além de trazer legitimidade à ONG, o potencial de crescimento desse modelo de captação é muito grande, o que pode auxiliar em sua sustentabilidade. Portanto, vale reforçar que a diversificação de fontes deve ser parte da estratégia de toda organização.

Fernanda Giannini, gerente do Instituto Phi, complementa a ideia ressaltando que, "como em qualquer empresa, as fontes de recursos financeiros devem sempre ser as mais variadas possíveis. Para uma organização do Terceiro Setor, que sofre com a crise e com as limitações de recursos ainda mais do que uma companhia tradicional, essa diversificação é primordial, pois significa mitigar o risco de um dos principais financiadores desistir de apoiar e 'quebrar' a organização, como já ocorreu com muitas entidades".

Em outras palavras, as organizações sociais devem estar sempre preparadas para os momentos de bonança e para os momentos de recessão, comuns em qualquer economia no mundo. Ao diversificar suas fontes de captação, é possível se preparar mais adequadamente para os períodos de baixa, pois em uma eventual perda de fontes, ainda se pode contar com os demais apoiadores para dar continuidade aos seus projetos.

"A diversificação vem de exercícios de mobilização dos profissionais atuantes na ONG em praticarem a criatividade e também aprenderem com casos de sucesso de outras organizações. Infelizmente, as entidades ainda trocam pouco conhecimento entre si e, muitas vezes, passam por dificuldades que seus pares já conseguiram superar em outras ocasiões e que poderiam servir como aprendizado e como direcionamento para possíveis soluções", observa Fernanda.

Danilo Tiisel, advogado especialista em legislação do Terceiro Setor e diretor da Social Profit Consultoria, também defende a importância da diversificação como forma de evitar que "a organização entre em colapso econômico" e aponta cinco grandes fontes para a captação de recursos: indivíduos (pessoas físicas); empresas e institutos empresariais (empresas e organizações sem fins lucrativos de caráter empresarial); geração de renda própria; fontes institucionais; e fundações e organizações (pela causa, familiares e comunitárias, nacionais ou internacionais).

Principais Fontes De Financiamento

Pessoas físicas
(doações permanentes ou esporádicas, voluntariado).
Empresas e institutos empresariais (doações, trabalhos pro bono, voluntariado corporativo).
Governo (municipal, estadual e federal).
Geração de renda (confecção e comercialização de produtos feitos por projetos da própria organização social, venda de produtos e de serviços por meio de bazares ou lojas próprias, fundos patrimoniais, marketing relacionado à causa etc.).
Eventos.
Fundações (nacionais e internacionais).
Agências internacionais (bilaterais ou multilaterais).
Instituições laicas e religiosas.
Editais.
Leis de incentivo.
Crowdfunding.
Abordagens face-to-face.
E-mail marketing.
Telemarketing.
Doação de notas fiscais.

 

Pense Fora Da Caixa – Sempre

Inovar é contribuir para a construção de soluções novas ou significativamente melhores do que as opções disponíveis no momento; é buscar soluções que entreguem mais valor ao usuário final e que gerem ganhos excepcionais para a organização.

No dia a dia de uma entidade do Terceiro Setor, o conceito de inovação pode – ou melhor, deve! – ser empregado quando se trata de captar recursos. Isso não significa que os métodos e meios tradicionais devam ser descartados. De jeito nenhum! A ideia de "pensar fora da caixa" consiste, justamente, em encontrar alternativas mais modernas para melhorar os processos já existentes e, caso não haja processo anterior, aí sim criar algo para suprir as necessidades da ONG.

"Para encontrar novas possibilidades para captar recursos, profissionais atuantes na organização precisam estar atualizados e ler e pesquisar muito sobre fundraising no mundo. Todos os dias são publicados novos artigos, então, material é o que não falta. Além disso, eles devem observar o mercado comercial para verificar se alguma novidade pode ser adaptada à realidade de sua organização. A equipe de captação pode, ainda, realizar brainstorms constantes com a equipe de marketing e de programas para identificar oportunidades", orienta Flavia Lang, diretora e cofundadora da Ader&Lang.

A diretora destaca ainda a importância de se ter um tempo livre para poder "pensar". "Ter um tempo distante do agito do dia a dia pode contribuir bastante para esse processo criativo, pois assim eles poderão estudar, observar e analisar o que acontece no mundo".

Algumas Alternativas Criativas

Quando se fala em inovação com vistas à captação de recursos, a intenção não é, nem de longe, a de propor a "criação da roda". Ela já existe e ponto! O que se propõe é a busca por novas maneiras de se pensar essa roda. Ela precisa mesmo ser daquela cor? Precisa ter aquela espessura? E se for mais fina, o que acontece? Ela pode ter alguma outra funcionalidade além da tradicional? Pode ser maior ou menor para se adequar às necessidades desse ou daquele usuário?

Na captação, é exatamente isso o que se pretende: fazer com que os profissionais atuantes nesse segmento questionem, pesquisem, busquem novas possibilidades para a realização do seu trabalho, visando tanto ao aperfeiçoamento de seus processos, quanto à ampliação de seus resultados. Busca-se fugir do "mais do mesmo" para que se possa fazer "mais e melhor".

Crie Mais, Resolva Melhor

O conceito de "pensar fora da caixa" (do inglês thinking outside the box) remonta à ideia de pensar de forma livre das amarras convencionais. Isso significa utilizar a criatividade para buscar soluções inovadoras para novos e velhos problemas.

Para Marcio Zeppelini, editor da Revista Filantropia e presidente da Rede Filantropia, a criatividade é o degrau mais alto da sabedoria. "É imprescindível ter conhecimento técnico e teórico para resolver um determinado problema. Mas, para as organizações do Terceiro Setor, é necessário mais do que isso; é preciso resolver esse problema de forma rápida e com menos recursos, de modo que a inovação seja um diferencial competitivo para a ONG".

Assim como, no dia a dia, um pai cria diferentes maneiras de brincar com seus filhos, ou, no esporte, buscam-se novas estratégias contra os adversários, mas sem burlar as regras do jogo, a criatividade deve fazer parte do cotidiano das entidades sociais.

Mas ser criativo significa, acima de tudo, estar disposto a arriscar. É estar disposto a errar ou a falhar de vez em quando. "As organizações sociais precisam se arriscar quando se trata de captação de recursos. Sejam criativas. Encontrem formas diferentes de realizar suas atividades cotidianas e resolver seus problemas. Além de captar, é possível ganhar com a economia de recursos – dinheiro, tempo, energia, entre tantos outros", ele adverte.

Por fim, o presidente da Rede Filantropia orienta: "Troque o 'mas sempre foi assim' pelo 'mas por que sempre foi assim?' e encontre respostas diferentes!"

 

A seguir, são abordados três modos de se angariar recursos para uma organização, mas a criatividade e a inovação dos profissionais de captação das organizações não devem ficar restritas a eles. Use e abuse – ok, isso não foi muito criativo... – dos meios e modalidades disponíveis para recorrer aos seus apoiadores e doadores em potencial. Nessa hora, o importante é não ter medo nem vergonha de se arriscar.

Crowdfunding

Um bom exemplo é a captação por meio de financiamentos coletivos, também conhecidos como crowdfunding. "Essa modalidade surgiu há relativamente pouco tempo como uma tendência e hoje se tornou uma realidade para diversas instituições do Brasil e do mundo. A organização cria uma campanha de captação em uma plataforma de crowdfunding e conta com a doação de centenas, ou milhares, de doadores que se identificam com a causa. O melhor dessas ferramentas é que elas podem ser utilizadas por ONGs com menos de dois anos de existência – tempo de maturação exigido pelo governo para solicitar recursos", explica Tahiana D'Egmont, da Kickante.


Inovação não abre portas, fabrica

Henrique Szklo

 

 

Segundo Silvia Daskal, diretora do Instituto Doar e consultora em captação de recursos para organizações da sociedade civil, para captar recursos via internet não basta que a entidade esteja na web, seja por meio de um site ou de uma rede social, por exemplo. "Estar presente na internet é muito importante, sem dúvida. Mas as organizações também precisam fazer as pessoas chegarem até os seus sites institucionais ou páginas de doação e efetivamente doarem".

Como Captar Pela Internet

As organizações sociais precisam ter um bom site, com todas as informações possíveis sobre sua história; missão, visão e valores; suas campanhas; links para as redes sociais em que a ONG esteja presente; e contar com um botão de doação, disposto de maneira estratégica para que o usuário possa encontrá-lo sem esforço.

Como a maioria das pessoas acessa seus e-mails e navega na rede por meio de dispositivos móveis (tablets e smartphones), o site da ONG precisa ser responsivo.

O processo de doação on-line dever ser fácil e rápido – em poucos cliques. Quanto mais complexo for esse processo, maiores serão as chances de o doador desistir.

Deve-se utilizar anúncios, e-mail marketing e mídias sociais para levar os potenciais doadores ao site.

A organização deve oferecer conteúdos relevantes e atuais em todos os seus canais.

Deve-se utilizar sistemas de envio de e-mail marketing, agendamento de posts e processamento de pagamentos para automatizar o processo de doação, oferecer uma experiência melhor aos doadores e obter dados para aperfeiçoar o processo de captação da organização.

É essencial que as organizações tenham um banco de dados para armazenar as informações importantes sobre seus doadores e potenciais doadores e, principalmente, manter esses dados sempre atualizados.

Fonte: Silvia Daskal.

 

Assim como na captação off-line, a consultora afirma que é preciso engajar e inspirar as pessoas a fazerem suas doações e, nesse ponto, as redes sociais, os e-mails marketing e as pesquisas patrocinadas (anúncios) em sites de busca têm se mostrado boas ferramentas auxiliares. Só para se ter uma noção do potencial contido na internet, um estudo da agência We Are Social1, realizado em 2016, mostrou que o Brasil tem 120,2 milhões de usuários ativos em um universo de 208,7 milhões de habitantes. Desses usuários, 103,0 milhões são ativos em redes sociais e passam diariamente cerca de 3 horas e 18 minutos conectados a alguma rede. Com tantos doadores em potencial à solta, as organizações não podem perder a oportunidade.


Criatividade exige coragem

Henri Matisse

 

 

 

Um ponto bastante positivo dessa modalidade de captação é que ela é válida para todas as organizações, independentemente de porte. "Mas, para que isso dê certo, é fundamental que haja planejamento, tanto para solicitar recursos quanto para aplicá-los, e uma estrutura adequada para lidar com as doações on-line, como bancos de dados, sistemas de pagamento, sistema de envio de e-mails e análise de dados, por exemplo", ressalta Silvia.

Eventos sociais

A realização de eventos sociais também pode ser considerada uma excelente oportunidade para inovar. "Um evento é uma forma muito interessante de captar. Além de gerar receita para a organização e atrair outros recursos necessários, como mão de obra, ele também possibilita que a ONG se aproxime de seus apoiadores, mostre a sua cara e reforce seus vínculos com os doadores. É importante que as organizações lembrem-se disso: eventos geram relacionamento", destaca João Paulo Vergueiro.

O diretor executivo da ABCR comenta ainda que, como qualquer fonte de recursos, os eventos precisam ser bem planejados e avaliados, de modo que se possa checar a viabilidade e definir qual é o modelo que funciona melhor para cada organização. Isso, é claro, dependerá de fatores como quais são os ativos que ela dispõe, o quanto ela pretende investir, o que pretende obter como retorno, entre outros.

Possíveis Estratégias De Engajamento E Captação De Recursos

EMPRESAS
Editais, matching com
funcionários, patrocínios,
projetos incentivados.

COOPERAÇÃO
INTERNACIONAL,
INSTITUTOS E FUNDAÇÕES
Editais, projetos.

GOVERNOS
Convênios, emendas
parlamentares, termos de
parceria

PESSOAS FÍSICAS
Bazares, crowdfunding, doação
de notas fi scais, doações
avulsas, doações capitais,
doações recorrentes, eventos
(peças teatrais, festas, datas
comemorativas), geração
de renda, grandes doadores,
heranças, jantares e almoços
benefi centes, legados, leilões,
licenciamento, projetos
incentivados, rifas, shows e
venda de produtos e serviços

Investir em eventos é uma alternativa válida e interessante quando a organização social tem boa capacidade de mobilização local, em particular com o público que "consumiria" seu evento. "Se for um evento para alta classe, deve-se ter condições de mobilizar indivíduos que tenham recursos para investir em um convite um pouco mais caro. Se for um evento para a massa, como festa junina, por exemplo, deve-se ter base local ampla, para divulgar o evento e gerar muito público. Em ambos os casos, é essencial que se tenha capacidade de mobilizar parceiros para o evento, de modo a reduzir seus custos e obter o melhor retorno", ele completa.


Inovar implica fazer diferente. E é justamente aí que o "bicho pega"

Oldair Belassini

 

 Como exemplo de captação por meio de evento, Fernanda Giannini cita o caso da Eventos do Bem. "A Eventos do Bem é uma startup de financiamento coletivo de eventos, que procura empoderar a pessoa que apoia a causa, para gerar impacto positivo no mundo, utilizando seus eventos pessoais – aniversários, casamentos, formaturas – para angariar financiamento para projetos socioambientais", ela explica.

Tradição X Inovação

As Abadias Trapistas E A Captação De Recursos

A Ordem dos Cistercianos da Observância Estrita foi fundada em 1892, na Europa. Àquela época, para sobreviver aos longos períodos de jejum a que se impunham os monges, nos quais era permitido apenas o consumo de líquidos, esses religiosos desenvolveram uma bebida – hoje conhecida como cerveja – que, em termos de substâncias e nutrientes, assemelhava-se ao pão e ajudava a saciar a fome. Com o tempo, os monges foram aperfeiçoando suas técnicas de produção e conservação.

Hoje, a ordem trapista cresceu e possui cerca de 170 abadias espalhadas em todo o mundo. No Brasil, eles estão presentes na Abadia Trapista Nossa Senhora do Novo Mundo, localizada em Campo do Tenente (PR), fundada em 1983 e composta por 29 monges.

Mas, ao contrário do que se pensa, esses monges não fabricam mais cerveja, e sim vinhos, licores, pães, geleias, mel, biscoitos, azeites, queijos e chocolates. A produção atual é destinada não apenas ao consumo próprio, como ocorria com a cerveja, mas também à captação de dinheiro para sua sobrevivência e para ajudar as obras sociais e a comunidade carente próxima à abadia.

Fonte: Cerveja na Moringa1.

Captação com pessoa física

Tudo bem que esse não é o exemplo mais inovador de modalidade de captação de recursos, mas ainda assim é um dos mais importantes para a manutenção de uma entidade do Terceiro Setor. Seu aspecto inovador reside na maneira como o pedido de doação é feito. Sair por aí dizendo "minha organização precisa de dinheiro" não passa nem perto de ser uma mensagem cativante. Aliás, é bem provável que ela acabe afugentando as pessoas. Mas se essa mensagem conseguir sensibilizar o doador em potencial, se ela conseguir tocá-lo, as coisas começam a ficar diferentes e, até mesmo, mais atraentes.

Quem não conhece a história do homem cego, que pedia esmolas, tendo em mãos um cartaz escrito com giz que dizia "Por favor, ajude-me, sou cego"? Bom, a história é a seguinte: por muito tempo, o homem cego ficou sentado em uma calçada, com seu cartaz e um chapéu gasto no chão, pronto para receber as esmolas das pessoas que passavam pela rua. Certo dia, um publicitário passou pelo homem e reparou que havia umas poucas moedas em seu chapéu. Sem pedir licença, ele pegou o cartaz e o giz, escreveu outro anúncio no verso do papelão e foi embora. Mais tarde, o publicitário voltou a passar pelo cego, que agora tinha um chapéu cheio de moedas. O cego reconheceu as pisadas do rapaz e perguntou se ele era a pessoa que havia escrito em seu cartaz. Quis saber, então, o que escrevera ali. O publicitário disse que não havia escrito nada que não estivesse de acordo com o anúncio anterior, porém com outras palavras, e, satisfeito com o resultado, seguiu seu caminho. O cego nunca soube, mas seu novo cartaz dizia: "Hoje é primavera e eu não posso vê-la".

Todas as inovações eficazes são surpreendentemente simples. Na verdade, o maior elogio que uma inovação pode receber é haver quem diga: isso é óbvio. Por que não pensei nisso antes?

Peter Drucker

 O que isso tudo quer dizer? Que é possível, sim, inovar na captação com pessoas físicas; basta mudarmos nossa forma de ver e trabalhar as dificuldades dessa modalidade.

Dica Dos Especialistas

Exercite a criatividade em todos os momentos do dia a dia de sua organização, mesmo em situações corriqueiras.

Busque inovar os processos já existentes, de modo a torná-los melhores, mais ágeis e confiáveis. Não adianta "inventar moda" e obter resultados inferiores.

Esteja sempre atualizado quanto às novidades na área de captação de recursos. Leia muito, faça cursos, busque novos conhecimentos.

Troque experiências com outras organizações sociais, especialmente com aquelas que atuam no mesmo segmento que a sua ONG.

Arrisque-se e faça coisas diferentes, mas sempre com foco no resultado que se deseja.


No momento em que você pensar fora da caixa, jogue a caixa fora

Deepak Chopra

 

Cultura De Doação

Não dá para falar em captação de recursos sem lembrar a importância da fidelização dos doadores a uma causa. E esse processo de fidelização também deve passar pelo crivo da criatividade e da inovação. Como a minha ONG pode tornar aquele doador fiel à causa? Como podemos estreitar nosso relacionamento com ele? O que podemos oferecer a ele como retribuição pela ajuda recebida?

As organizações têm um papel fundamental no fortalecimento da cultura de doação no Brasil. Saber pedir e como pedir é muito importante. "É preciso solicitar recursos de forma clara e inspiradora, e mostrar que o doador pode ser parte da solução para a causa defendida por sua organização. É essencial engajar seus apoiadores na missão de sua organização, tratá-los como parceiros, valorizá-los, despertando neles boas experiências, pois doadores engajados tendem a multiplicar para as suas conexões o trabalho realizado, promovendo a causa e a entidade, além de terem o interesse em se manter conectados à ONG", ressalta Silvia.

Além disso, é de grande importância apresentar os resultados do trabalho realizado pela organização de modo transparente. "A ideia é desenvolver um relacionamento duradouro com esse doador, de forma que ele e a organização se aproximem. Então, deve-se atentar para a coleta de informações pessoais, seus interesses e, também, dados sobre as suas doações, como periodicidade e valor".

Mas é preciso lembrar que não adianta reunir esses dados e deixá-los guardados em um arquivo no computador. É preciso usá-los adequadamente e de modo criativo, fugindo da mesmice praticada por muitas entidades. Busque maneiras inteligentes de despertar o interesse das pessoas. Um mimo produzido pelas crianças ou adultos de sua ONG? Uma carta escrita pela pessoa diretamente beneficiada pela doação? Um convite da organização para uma peça de teatro encenada pelos jovens atendidos pela organização? Existem diversas formas de inovar. O importante é que essa inovação seja viável, ou seja, que esteja dentro dos limites (financeiros e éticos) da organização e esteja em linha com sua proposta de trabalho.

1CERVEJA NA MORINGA. Os Trapistas. 18 mar. 2016. Disponível em: <http://www.cervejanamoringa.com.br/curiosidades/os-trapistas/>. Acesso em: 01 out. 2016.

Links: http://aderelang.com | http://captadores.org.br | http://eventosdobem.com.br | http://institutodoar.org | http://institutophi.org.br

 

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