Medindo o progresso sustentável: os sete desafios

Por: Instituto Filantropia
21 Junho 2013 - 21h10

A pós a Rio+20, o olhar se volta para os próximos anos e para o natural balanço sobre as lições aprendidas. Para mapear esse terreno, a Market Analysis, como integrante da rede GlobeScan de institutos especializados em temas de sustentabilidade, sintetizou as principais conclusões do diagnóstico feito em parceria com a consultoria Sustainability. Do estudo, alimentado a partir de entrevistas com mais de 1,6 mil experts no tema e perto de 25 mil cidadãos em mais de 20 países, destacam-se sete achados principais.
A pesquisa revela que especialistas e cidadãos repreendem com ênfase os governos nacionais pelo pobre desempenho das últimas décadas na agenda de sustentabilidade. Contudo, esta visão crítica não evita que o público ainda veja as autoridades políticas de cada país como as lideranças naturais do processo. Sete grandes perspectivas se destacam nas consultas realizadas com o objetivo de pensar no ano da Rio+20 sem dar por encerrado o debate sobre o modelo de sustentabilidade.

Desafio 1: O progresso sustentável tem sido parcial, desigual e com contradições

Especialistas e o público geral encontram-se divididos quanto às conquistas alcançadas 20 anos depois de iniciado o grande debate sobre desenvolvimento sustentável. Menos da metade deles enxerga um progresso sólido nos pilares ambiental e econômico, e a grande maioria tem sérias reservas quanto aos avanços ocorridos no pilar social. De forma muito clara, a mensagem de uns e outros é que a grande dívida pendente é por maior justiça social.
Contudo, as percepções de uma parcela importante de pessoas ouvidas pelo estudo é favorável, e alguns passos objetivos tomados por empresas e governos, por exemplo, ajudam a compor essa leitura, especialmente no que tange às melhorias no meio ambiente. A maior eficiência energética, a ampliação dos processos de reciclagem e reaproveitamento dos resíduos e a menor pegada em termos de emissões ao longo da cadeia produtiva no mundo corporativo deixaram de ser exceção e se tornaram práticas “mainstream” do universo empresarial ao redor do planeta.
Por sua vez, nações poluidoras viram seus governos assumirem compromissos inéditos: os EUA admitiram aderir às metas de redução de gases de efeito estufa, em Copenhagen; a China está mudando de forma importante sua matriz energética para uma de fontes limpas e renováveis; e o Brasil sinalizou uma política de redução do desmatamento para chegar a até 80% em 2020. É verdade que tais medidas precisariam ser mais intensas e rápidas e que promessas costumam ficar a certa distância da realidade, mas elas acabam obrigando os políticos a se aproximarem dos acordos feitos.
A evolução nos níveis de bem-estar econômico é o segundo aspecto melhor avaliado – em especial entre os países emergentes. O estabelecimento das oito Metas do Milênio, no ano 2000, é identificado como tendo incentivado um esforço coletivo em favor da inclusão, da erradicação da pobreza e do acesso à educação, entre outros objetivos.
Mas tais avanços têm sido ofuscados pelas disparidades sociais e pelas crises de origem econômica e ambiental, que resultaram em recessão e desemprego, quebra de safras e inflação nos preços dos alimentos. Tanto a opinião pública mundial quanto os experts em sustentabilidade acreditam que ainda há um longo caminho a ser percorrido até chegarmos à criação de sociedades mais saudáveis e equitativas.

Desafio 2: A falta de vontadepolítica e outras barreiras

O que está impedindo de se conquistar resultados mais sustentáveis?
Os peritos consultados apontam, principalmente, para uma falta de vontade política na hora de pensar nos obstáculos para impulsionar a agenda global da sustentabilidade.
Por que nossos representantes não se tornaram os líderes em sustentabilidade das nossas sociedades? Se é verdade que o ciclo eleitoral privilegia o curto prazo em detrimento do imperativo de longo prazo das metas sustentáveis, também é certo que as plataformas dos governos democraticamente eleitos refletem, de uma forma ou de outra, as prioridades do eleitorado. Ou seja, a responsabilidade é, até certo ponto, consentida por parte dos votantes. Por outro lado, as próprias empresas vivem pautadas pelo curto prazo com uma intensidade maior e, no entanto, muitas delas têm liderado o movimento pela economia verde. Por que os políticos não tem usado isso como inspiração para políticas mais responsáveis?
Na visão dos especialistas, uma segunda barreira-chave são os interesses pessoais envolvidos na formulação de decisões que lidem com temas da agenda de sustentabilidade. Existem alguns conflitos óbvios: para o consumidor, que após anos de consumo reprimido passa a ter renda suficiente para esbanjar com a oferta do mercado, embora seu consumo possa ser ruim para sua saúde, seu habitat e até seu próprio bolso; para os partidos políticos, que devem decidir entre proteger reservas florestais sem eleitores ou ceder à pressão de empresas capazes de patrocinar suas futuras campanhas; e para as pequenas e médias empresas, que para não sucumbirem diante dos impostos e da concorrência, subfaturam ou descumprem a legislação trabalhista.
Mas tudo piora quando diferentes interesses convergem em favor da inação e, naturalmente, desestimulam a possibilidade de avançar rumo ao desenvolvimento sustentável. Em momentos de recessão, governos e empresas buscam minimizar a perda de receitas a ponto de lançar mão de planos de estímulo às compras, sem contrapartidas ambientais ou sociais. Fica claro que, quando um em cada dois adultos está sem emprego (como na Espanha), quando o modelo econômico gera fortes críticas e poucos resultados (como nos EUA e na Europa) e quando os motores da economia mundial desaceleram (China e Índia), persuadir os investidores a apostar em uma agenda verde é uma tarefa ingrata.
Muito além das agendas setoriais, os especialistas reconhecem que a própria natureza complexa dos temas é um obstáculo. As questões de sustentabilidade têm uma característica sistêmica e, portanto, exigem compreensão profunda, ancorada em provas científicas. Da mesma forma, para o debate progredir é preciso um conhecimento dos diferentes pontos de equilíbrio possíveis, seus custos e benefícios, seus determinantes e suas implicações de curto e longo prazos.

Desafio 3: Quem lidera e quem deveria liderar?

A pesquisa revela um claro vazio de lideranças institucionais e sugere que seu caráter altamente técnico bloqueie o aparecimento de um espírito de mobilização atrelado à realização de um objetivo global como o desenvolvimento sustentável, embora referências variadas tenham surgido ao longo dos últimos anos: de Al Gore até o movimento Occupy WallStreet, de Marina Silva até Wangari Maathai e Muhammad Yunnus. Seja como for, aqueles agentes de quem habitualmente esperaríamos a iniciativa (governos nacionais, organismos multilaterais, setor privado, Nações Unidas) não parecem ter preenchido as expectativas. De fato, para os experts consultados, os governos nacionais são os que pior se saíram em colocar em marcha uma proposta de sustentabilidade, opinião que é compartilhada pelo grande público.
Quem aparece à frente como modelo inspirador de atuação?
As organizações não governamentais da sociedade civil, os empreendedores sociais e as iniciativas independentes de cidadãos mobilizando a população geral surgem claramente como exemplos de atuação. É a consagração do modelo bottom-up, nascido nas bases da sociedade, partidário da inclusão e da inovação e percebido como mais transparente para obter resultados sustentáveis. Em perspectiva, o contraste entre a autoridade e os recursos que governos, organismos multilaterais e instituições financeiras têm e a baixa eficácia de ação por eles apresentadas é chamativo. A crítica a uma abordagem top-down não poderia ser mais nítida.

Desafio 4: Muito além da reforma do sistema

Os especialistas em sustentabilidade acreditam que nosso atual sistema econômico precisa de mudanças importantes para viabilizar o progresso. Oito em cada dez (78%) entendem que já não se trata de pequenos ajustes no modelo mas, sim, de transformações radicais.
De fato, diversas opções foram discutidas na Rio+20, tais como monetizar a biodiversidade, atrelar a noção de desenvolvimento à conquista de bem-estar antes do que às variações de acumulação de riquezas e eliminar subsídios aos combustíveis fósseis. Várias empresas já estão antecipando essas mudanças.

Desafio 5: Colaboração como modelo de sucesso

Um futuro favorável dependerá, em grande medida, das parcerias multi-stakeholders, ferramenta vital para o desenho de soluções diante dos complexos desafios do desenvolvimento sustentável.
A sociedade civil, bem avaliada no seu engajamento com a proposta de sustentabilidade, continuará tendo um papel crítico. A grande maioria dos experts consultados (82%) concorda que as ONGs podem ser um dos agentes mais eficientes e efetivos em mobilizar o conjunto da sociedade rumo à sustentabilidade se trabalharem em parceria com o mundo corporativo – ao invés de em oposição a ele. Por sua vez, o setor privado poderia realizar o máximo de seu potencial como agente de transição para uma economia verde e responsável se trabalhasse junto com os governos para definir regras do jogo favoráveis a um novo equilíbrio sustentável.
Tais parcerias multi-stakeholders surgem como ícones do modelo a construir, uma vez que são julgadas como tendo um caráter de vanguarda indiscutível e por exibir uma eficácia bem superior a propostas alternativas.
A chamada pela colaboração é nítida. O que não fica tão claro, entretanto, é como essas parcerias multissetoriais serão conduzidas. De fato, sem contar com uma liderança singular ou um mecanismo de regulação, a convergência dos vários setores pode perder força e propósito.

Desafio 6: A revisão do conceito de sucesso empresarial

O aumento de oportunidades e obrigações para o setor privado no futuro é consenso. Contudo, até pouco tempo atrás a atitude predominante diante da proposta de desenvolvimento sustentável passava pela apatia ou pela franca oposição. Na medida em que as multinacionais ganharam maior peso, com cadeias produtivas globais e poder econômico superior ao dos próprios estados, as exigências se multiplicaram. Qual é a guia de atuação mais favorável na visão dos experts?
As grandes empresas poderiam forjar colaborações e parcerias ao invés de ficar esperando que a pressão da sociedade ou a regulação do governo indiquem qual papel devem desempenhar.
Além disso, o mundo corporativo deveria aperfeiçoar seu desempenho em sustentabilidade com o mesmo rigor com o qual persegue a lucratividade ou a inovação. Não há dúvidas sobre os ganhos em ecoeficiência do setor privado nas últimas décadas por meio da inovação tecnológica. De fato, estas iniciativas costumam ser o passo inicial rumo à sustentabilidade de várias empresas, mas precisam se tornar parte de objetivos absolutos e estratégicos.

Desafio 7: O fim da era dos ganhos fáceis

Quando pedimos aos peritos que hierarquizassem os principais desafios da sustentabilidade nos próximos cinco anos, o que surgiu como prioridade foram as ações de desenvolvimento social e ambiental. Criar sociedades mais justas, garantir condições de vida seguras, defender o meio ambiente e buscar a mitigação das consequências de não tê-lo defendido até agora aparecem como urgências.
Os temas mais fáceis de progredir são os relacionados com a inclusão ativa de novos atores (jovens, mulheres), a promoção de um engajamento mais amplo entre atores tradicionais (cidadãos no geral e corporações) e melhorias pontuais (saúde, mobilidade, tecnologias ecoeficientes). Entretanto, nem todos estes assuntos são percebidos como importantes. Pior ainda: há uma tendência a perceber as questões menos importantes como sendo as mais fáceis de prosperar, correndo o risco de atrair as atuais lideranças a conformar-se com a uma agenda compensatória antes daquela ancorada nas urgências relevantes.

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