Famílias Suficientemente Boas: um Conceito Ampliado

Por: Cleusa Kazue Sakamoto
09 Junho 2016 - 04h45

O desenvolvimento humano é o campo de pesquisa cuja abrangência dá apoio aos estudos da personalidade, da cognição, da sociabilidade, da aprendizagem, das múltiplas competências, da criatividade, para mencionar somente alguns dos focos de interesse de sua área científica. 

Nesse cenário em que destacamos, para a construção da personalidade e a definição de sua singularidade representada no conceito de identidade pessoal, a família tem um valor incomparável como suporte emocional, espiritual e material na trajetória evolutiva de cada individualidade. É a família o primeiro grupo social ao qual os seres humanos se encontram vinculados, e ela serve de referência para dar modelos de relacionamento humano, que apresenta a cada um de nós os valores e os princípios éticos que regulam a vida coletiva, que ensina a importância do afeto no percurso da vida. A família é o contexto (material, emocional, intelectual, cultural, ideológico, espiritual) no qual uma individualidade, como sujeito, se constitui.

Ela é a rede de relações interpessoais que estabelece o conjunto de ideações que permeia o cotidiano no seu aspecto prático; quando ela se mostra ausente, impõe uma indiscutível necessidade de ser substituída por outras constelações funcionais, que nem sempre cumpre adequadamente sua função, trazendo grandes perdas para a realidade individual e social. No seio da família, o bebê recebe o provimento de suas necessidades básicas de proteção e cuidados, que é o alicerce de seu complexo desenvolvimento biológico, psicológico e social.

Segundo a teoria do psicanalista Donald Winnicott**, um bebê não sobrevive sozinho, isto é, que sua condição de vulnerabilidade não lhe permite no início da vida ter garantias de sobrevivência quando se encontra sem laços com o outro ou sem um acolhimento como lhe é dado se contar com uma família. O motivo de sua absoluta dependência para com outro ser humano, capaz de cumprir este importante papel de cuidador e protetor, configura um vínculo fundamental para sua existência que permite ao bebê depositar, em decorrência, uma genuína confiança no outro.

O bebê, em sua fragilidade, expõe de modo claro e direto, o grau de dependência que o ser humano possui em relação ao outro, o que constitui uma característica central da espécie humana. Embora possamos alcançar relativa autonomia ao longo da existência e tenhamos possibilidade de construir um modo de vida até solitário, compartilhar o mundo humano e participar de eventos que incluem interação social são indissociáveis do viver humano, que é permeado pela troca social, intersubjetiva.

A família, berço da experiência de troca interpessoal, é a base e o modelo das relações de convivência e influencia crenças e limites acerca das possibilidades de cooperação e construção coletiva. Para se tornar um indivíduo, uma pessoa precisa de uma boa dose de experiências de reciprocidade, que são vividas nos ambientes em que compartilha com outras pessoas, frequentemente de suas famílias.

O ambiente é tão fundamental para a construção dos seres humanos ao cumprir um papel central de atender necessidades básicas, que Winnicott constituiu um conceito que o definiu como “ambiente suficientemente bom”, ou seja, aquele capaz de oferecer o suporte necessário às exigências de desenvolvimento humano. Esse ambiente adequado não é perfeito, afirma o autor, pois frustrações fazem parte do crescimento da pessoa, mas é ‘bom o suficiente’ para garantir a vida e seu processo evolutivo.

Este conceito essencial na formação do ser humano, nos leva a pensar um outro que poderia ser dele derivado: as “famílias suficientemente boas”, ou aquelas em que as crianças encontram todos os elementos fundamentais que servem de base ao seu desenvolvimento integral. “Famílias suficientemente boas” seriam os grupos de pessoas que se encontram ligados por vínculos afetivos e que mantém o objetivo de garantir a crianças uma estabilidade material e emocional por sua permanência e constância em suas posições ideológicas frente o que é a vida e o viver humano, que praticam e exemplificam um conjunto de regras e valores de convivência e servem de modelos de possíveis modos de ser e de viver.

“Famílias suficientemente boas” não são necessariamente aquelas que não apresentam conflitos, mas sim aquelas que podem demonstrar dificuldades de toda ordem frente aos dilemas humanos, que não negam essas dificuldades e buscam de algum modo responder às mais diversas indagações sobre o viver, tentando superar suas limitações. São modelares na possibilidade de expressar possibilidades reais de abordagem ao novo e àquilo que se apresenta desafiador.

As “famílias suficientemente boas” estão longe de serem perfeitas; antes de tudo, são reais e quando se mostram com seus limites claros e seus problemas, oferecem ao ser humano, o testemunho de que a vida que é um processo tem infinitos caminhos e pode ser criativamente reformulada.

Nos dias atuais em que os lares estão se tornando apenas recintos de abrigo físico deixando de ser o celeiro das reservas afetivas e o lugar por excelência do encontro humano, as famílias estão deixando de exercer essa função “suficientemente boa” abstendo-se do importante papel de compartilhar a responsabilidade de escolhas e com isto, estão reduzindo a liberdade de pensar em grupo a uma alternativa prática de consequência imediata.

As “famílias suficientemente boas” têm, na atualidade, a missão de compartilhar com seus integrantes as mais diversas situações que envolvem as escolhas na trajetória do viver e de participar com novas visões os fatos do cotidiano, pois no exercício de pensar juntos os indivíduos vivenciam profundas experiências que lhes devolvem o senso de humanidade e lhes permitem saborear a natureza da troca genuína que está na base de nossa condição de dependência e incompletude humana.

**Para conhecer mais sobre o autor, recomenda-se a leitura das obras: Tudo começa em casa (1986); A família e o desenvolvimento do indivíduo (1965); Natureza humana (1988); e O brincar e a realidade (1971). Todas editadas em português por variadas editoras.

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