Formando Cidadãos Show de Bola

Por: Paula Craveiro
09 Junho 2016 - 03h25

 

Nascido e criado no Jardim Irene, uma comunidade carente da periferia de São Paulo, Marcos Evangelista de Morais, o Cafu, teve sua vida modificada por meio do esporte. Apaixonado por futebol desde a infância, foi dentro dos campos que ele teve a oportunidade de melhorar de vida, de ajudar sua família e também de retribuir à sociedade as oportunidades que a vida e seu trabalho lhe deram.

Em 2004, criou a Fundação Cafu, com o objetivo de desenvolver programas que incentivassem a inclusão social da comunidade do Jardim Irene e de bairros vizinhos, orientando os participantes dos projetos a buscarem seus direitos como cidadãos e a se tornarem agentes transformadores de sua própria realidade. Atualmente, a organização atende cerca de 950 crianças e jovens com idades entre 3 e 17 anos e 300 adultos.

Em entrevista à Revista Filantropia, Cafu fala sobre sua fundação e os desafios da captação de recursos no Terceiro Setor.

Revista Filantropia: Como surgiu a ideia de criar uma fundação? O que despertou sua atenção para a área social?

Cafu: Meu interesse pela área social começou na infância, influenciado pela minha mãe, que sempre procurou ajudar as instituições da região. Ela costumava fazer doações e organizar bingos e leilões. Com o tempo, passei a viajar pelo mundo inteiro e, sempre que possível, trazia alguma coisa diferente para que ela pudesse oferecer nesses eventos.

A ideia de criar a Fundação Cafu surgiu como uma consequência natural daquilo que eu via sendo praticado dentro de casa. O objetivo da fundação foi dar um pouco mais de visibilidade para a periferia, principalmente para o Jardim Irene, bairro onde nasci e cresci. Essa é uma região muito grande e muito carente de oportunidades. Na minha época, não existia oportunidade; tínhamos apenas um campinho de futebol improvisado em um terreno baldio, mas não havia espaço para que a gente pudesse expressar nossa inteligência, aprender uma profissão, para sermos efetivamente incluídos na sociedade.

RF: Pensando na questão da inclusão social e na abertura de possibilidades para os jovens do entorno da fundação, quais são os principais projetos desenvolvidos?

Cafu: Atualmente, contamos com cerca de 20 projetos, nas áreas de esporte, arte e cultura, geração de renda e profissionalizante e saúde. Todos os nossos projetos podem ser considerados carros-chefe, pois têm função complementar, ou seja, eles não concorrem entre si. Neles, cada criança tem a chance de desenvolver atividades variadas. Elas podem testar suas aptidões para bateria, canto, dança, pintura, basquete, futebol, corte e costura, cabeleireiro, artesanato. Acredito que um dos principais diferenciais dos nossos projetos seja justamente essa possibilidade de as crianças testarem seus limites e aptidões, sem que seja imposta essa ou aquela atividade. Nossa proposta é incentivá-las de acordo com o que elas têm capacidade. Para isso, contamos com profissionais, que vão acompanhando e orientando cada etapa.

RF: Como o esporte pode auxiliar no desenvolvimento de crianças e de jovens?

Cafu: O esporte tem o poder de ajudar as pessoas de todas as maneiras, pois é uma ferramenta fantástica para atingir o desenvolvimento cultural e social de uma criança. Por meio da prática esportiva, você pode fazer com que a criança se integre na sociedade de uma maneira melhor, aprenda a se relacionar, a ter disciplina, a trabalhar em grupo. O esporte é uma ferramenta fantástica para quem sabe usá-la. O futebol, por exemplo, consegue até parar uma guerra.

RF: Como a fundação é mantida?

Cafu: A maior parte da renda que ajuda na manutenção da fundação é captada por meio de doações de empresas e de pessoas físicas, eventos, jogos beneficentes, jantares que promovemos uma vez por ano, leilões, bingos, venda de camisas e, também, parcerias. Às vezes, quando participo de algum evento, parte do que é arrecadado também é revertido para a fundação. Tudo é motivo para captar recursos, mas isso tem sido bastante difícil.

RF: Nesta edição da Revista Filantropia, a matéria de capa aborda a questão da dificuldade que algumas organizações sociais estão enfrentando em relação às doações e à dificuldade de manter projetos e, até mesmo, as instituições. Como a Fundação Cafu tem sentido essa questão?

Cafu: A crise econômica tem sido uma justificativa recorrente para a diminuição dos valores doados, o que resultou para a fundação em uma queda de 70% na captação de recursos. Essa redução no volume de recursos tem afetado nosso desempenho, porque o custo para manter uma fundação é muito alto, ainda mais em um país em que as instituições disputam espaço e doadores e precisam o tempo todo mostrar para as empresas que o Terceiro Setor é importantíssimo, e que ter seu nome associado a uma instituição séria é muito importante também. Mas, apesar dessa queda de 70%, felizmente ainda não existe a possibilidade de encerrarmos nenhuma atividade. Porém, temos um padrão de qualidade a ser seguido na prestação dos nossos serviços e se ela começar a cair, aí precisaremos repensar algumas coisas, reavaliar o que estamos fazendo. Espero que isso não aconteça, mas, vivendo na crise em que vivemos hoje, não seria nenhum espanto se acontecesse.

RF: Para tentar driblar a crise, você acredita que seja válida a criação de parcerias entre as associações?

Cafu: Sem dúvida. Nós até mesmo já visitamos várias instituições, como a Fundação Gol de Letra. Mas nem sempre é fácil viabilizar essas parcerias na prática, ainda mais em um momento em que todas as fundações e associações estão sofrendo com o problema da escassez de recursos para dar continuidade aos seus projetos. Mas a possibilidade e o interesse nessas parcerias sempre existem.

RF: Como você avalia a atuação do governo em questões sociais?

Cafu: A atuação é péssima, não dá para negar. Falta engajamento, comprometimento com as fundações e entidades do Terceiro Setor que querem verdadeiramente ajudar e fazer a diferença na vida das pessoas. Acredito que poderia ser feito muito mais do que estão fazendo. Mas, enquanto os governos se omitem, a população mais carente pode contar com o suporte de organizações sociais competentes que, mesmo em meio à crise, têm buscado fazer o seu melhor, de maneira a oferecer meios de nossas crianças se integrarem à sociedade e de nossos jovens terem acesso aos estudos e a uma profissão.

RF: Quais pautas deveriam ser tratadas como prioridade no Brasil?

Cafu: Tendo em vista a situação em que nosso país se encontra, eu diria que tudo é prioridade. Tem muita coisa errada acontecendo, muita coisa sendo negligenciada. Mas acredito que os primeiros itens da lista deveriam ser educação e saúde. Educação por ser o principal caminho para uma vida melhor, para abrir caminhos, e saúde por ser uma necessidade e um direito essencial para o ser humano.

RF: Você acredita que o envolvimento de atletas e de artistas em questões socioambientais ajude a estimular o engajamento das pessoas?

Cafu: Com certeza ajuda, mas acredito que isso não seja o suficiente. É legal que as pessoas tenham um modelo, alguém em quem possam se inspirar, alguém que as motive a fazer algo em favor dos outros. Mas quando isso é feito apenas na empolgação, apenas para repetir o ato do ídolo, acaba se perdendo com o tempo. É preciso que, além da admiração pelo ídolo, haja comprometimento com a causa, com a instituição.

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