Educação, cultura e saúde pintam a comunidade de azul

Por: Felipe Mello, Roberto Ravagnani
01 Fevereiro 2006 - 00h00

Em 1975 uma pedagoga resolveu abrir as portas da própria casa para interagir com crianças da favela Monte Azul, localizada na zona sul da cidade de São Paulo. A idéia era realizar tardes recreativas, com a ajuda dos alunos da escola particular onde lecionava. Foi assim que Ute Craemer, a protagonista em questão, começou a construir uma ponte entre seus alunos e as crianças da favela.

A ligação levou Ute a promover reuniões com os pais dos meninos e meninas, a fim de encontrar soluções conjuntas para os problemas da comunidade. O intercâmbio com as crianças e o diálogo com os pais constituíram as bases de todo o trabalho desenvolvido pela Associação Comunitária Monte Azul, fundada em 1979.

As primeiras atividades foram desenvolvidas na escolinha para crianças e jovens, e também no ambulatório médico, construídos em mutirão pelos moradores. Passos iniciais em consonância com as carências sociais mais urgentes, ou seja, educação e saúde. Daí para frente, a presença da associação na favela cresceu continuadamente e, a partir de 1983, se expandiu para mais duas comunidades: a favela Peinha e o bairro carente Horizonte Azul, ambos também localizados na zona sul da capital paulista.

A presença de projetos sociais nessa região da cidade começou na década de 1970, uma vez que ali se concentra uma parcela significativa de moradores da metrópole, especialmente de baixa renda. Informações obtidas junto à associação dão conta que a favela Monte Azul – onde se encontra o Centro Cultural da ONG – possui atualmente 2.000 moradores que vivem em 480 casas de alvenaria (antigos barracos de madeira), erguidas em mutirões comunitários.

A população é proveniente de estados do nordeste brasileiro, de Minas Gerais e do Paraná. Os mais jovens moradores nasceram e se criaram na própria favela, onde existe um ambiente amigável e tranqüilo. Segundo Ana Maria Medeiros, coordenadora da oficina social da organização, os maiores desafios atuais são: “fazer com que a comunidade assuma a entidade como parte dela e fortalecer a nova unidade em Horizonte Azul”.

A interação com os moradores determina o surgimento de novas frentes de trabalho da Associação Monte Azul, a partir do diálogo entre as necessidades da população atendida e as possibilidades e capacidades da organização social, que tem como maior objetivo impulsionar o processo de crescimento individual e comunitário. Na opinião da coordenadora, o ponto forte da entidade está centrado na filosofia utilizada, que se  fortalece continuamente, valendo-se da pedagogia Waldorf e da medicina ampliada pelos princípios da antroposofia.

Os projetos desenvolvidos pela associação estão ligados à educação, cultura, saúde, desenvolvimento social e preservação do meio ambiente. Atividades educacionais são oferecidas à comunidade desde o berçário, creche e pré-escola até a complementação escolar, utilizando-se da pedagogia Waldorf para desenvolver paulatinamente a imaginação até a formação do raciocínio abstrato. “Os educadores tratam crianças e jovens como seres humanos integrais, ansiosos não só por cuidados materiais e o simples acúmulo de conhecimento, mas por uma educação que fortalece e desenvolve as capacidades inerentes a cada individualidade, para que, na idade adulta, cada um possa cumprir a sua missão de vida com liberdade”, informa Ana Maria.

As iniciativas de educação cumprem  o papel de apoio às famílias e investimento nas crianças e adolescentes, pois o atendimento diário possibilita abrigo e segurança às crianças cujas mães trabalham fora. Além disso, eles recebem alimentação balanceada, assistência médica e saúde preventiva, possibilitando aos pequenos o desenvolvimento com energia e em ambiente propício. Os maiores, ou seja, pré-adolescentes e adolescentes, desenvolvem atividades em horário complementar à escola tradicional (cultura, esportes e lazer) e têm a possibilidade de participar de oficinas de iniciação ao trabalho, tais como marcenaria, reciclagem de papel, corte e costura e panificação.

“Atualmente estamos batalhando para aumentar o espaço físico e a estrutura da organização, para que possamos dar atendimento a toda a demanda”, conta Ana Maria. A grande procura está relacionada às demais áreas de atuação da organização como, por exemplo, o Centro Cultural, que oferece programação de teatro, música, coral (adulto e infantil), oficinas de expressão e artes, festas em homenagem a culturas de diferentes povos e de comemoração a datas históricas. Ainda como contribuição cultural, a entidade abre as portas da sua biblioteca, onde os títulos estão acessíveis para empréstimos, pesquisas e reforço escolar, atendendo alunos e professores da própria associação e de escolas públicas da vizinhança.

Além de trabalhar a mente das crianças, adolescentes e demais membros da comunidade, a ONG também cuida do corpo, por intermédio da prestação de serviços médicos ambulatoriais em três localidades próximas à região. São programas de promoção à saúde e prevenção de doenças, atendimento
médico (clínico geral, pediatria, ginecologia, psiquiatria), assistência psicológica e terapêutica, assistência nutricional, pré e pós-natal, atendimento odontológico e parceria com a Secretaria Municipal da Saúde, na co-gestão do Programa de Saúde da Família (PSF).

Buscando empoderar, ou seja, dar poder à comunidade, a Monte Azul oferece um programa de formação ampla para todos os colaboradores da associação e demais interessados. Trata-se da Escola Oficina Social, que procura desenvolver ainda mais a ação social, considerando a grande necessidade que há no mundo de se formar pessoas com habilidades sociais a partir do conhecimento e compreensão do ser humano como ente físico, psíquico e espiritual e em relação ao mundo.

Nas localidades atendidas, carentes de infra-estrutura e onde há grande disparidade de classes sociais, a Monte Azul ainda organiza e acompanha o desenvolvimento de assuntos de interesse da comunidade, visando principalmente a qualidade de vida. Ana Maria apresenta os resultados dos projetos sociais, relatando que “anualmente a organização atende em média 6.000 pessoas nas áreas de saúde, educação e cultura. Mensalmente são atendidas 1.100 alunos de 0 a 18 anos na área da educação, e pelo menos 20 mil pessoas freqüentam o centro cultural durante o ano todo. Já nos cursos são atendidas 600 pessoas e no núcleo de saúde 4 mil pessoas por mês.”

A relação entre a comunidade Monte Azul e a Associação Monte Azul é sinérgica, com resultados positivos para ambas as partes. Tal modelo de interação sem caráter de intervenção vem conquistando cada vez mais sucesso em diversas localidades do Brasil e do mundo, uma vez que respeita o momento da comunidade e, a partir de acordos e desafi os elaborados e identifi cados em conjunto, existe a possibilidade de realizar modifi cações perenes. 

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