Educação sem fronteiras

Por: Thaís Iannarelli
26 Maio 2014 - 20h24

Educador Salman Khan quebrou paradigmas e inovou ao passar a sala de aula para o espaço virtual

Com o objetivo de oferecer educação de alto nível para qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo por meio de vídeo-aulas e exercícios on-line, a Khan Academy é uma organização sem fins lucrativos, criada por Salman Khan, em 2008. A academia funciona também no Brasil, trazida pela Fundação Lemann, em parceria com o Instituto Natura, Instituto Península, Ismart e Fundação Telefônica. Dessa forma, traduz os vídeos e leva ferramenta de exercícios para escolas públicas. Atualmente, há mais de mil vídeos em português sobre matemática, biologia, química e física.
Hoje, mais de 10 mil alunos dos 3º, 4º e 5º anos, dos Estados de São Paulo, Paraná e Ceará, participam do projeto Khan Academy nas escolas. O objetivo é melhorar o desempenho dos alunos em matemática e experimentar a metodologia em sala de aula, enquanto os professores acompanham o aprendizado dos alunos. Quando participou da TED Talks, organização dedicada a espalhar ideias em forma de palestras curtas, Salman Khan falou sobre como começou o trabalho de produção e divulgação das vídeo-aulas até formar a Khan Academy. Confira alguns trechos de sua fala:

Salman Khan: Temos aproximadamente 2.200 vídeos que cobrem desde aritmética básica até cálculos de vetor e mais outras coisas. Temos um milhão de alunos por mês que usam o site, e assistem algo em torno de 100 a 200 mil vídeos por dia. Mas vamos falar sobre como chegamos até aqui. Antes, porém, quero falar um pouco sobre como comecei. Alguns anos atrás eu era analista em um fundo de mercado, e, como estava em Boston, dava aulas on-line para meus primos, em Nova Orleans. E aí comecei a colocar os primeiros vídeos no YouTube, como um suplemento para o que estava ensinando aos meus primos – algo como um lembrete.
Assim que coloquei os primeiros vídeos no YouTube, algo interessante aconteceu – aliás, muitas coisas interessantes aconteceram. A primeira foi o feedback dos meus próprios primos. Eles me disseram que preferiam me ver no YouTube do que pessoalmente. E vi que tinha algo muito certo nisso. Eles quiseram dizer que preferiam a versão virtual do primo deles. Primeiro, é muito intuitivo, mas quando você pensa nisso, faz muito sentido. Nesse caso, eles podiam pausar e repetir o vídeo quando quisessem, sem sentir que estavam me fazendo perder tempo com dúvidas e perguntas. Se eles tivessem que revisar algo que aprenderam duas semanas atrás, ou até alguns anos atrás, não precisariam ficar com vergonha de pedir para mim. Eles podiam apenas assistir os vídeos. Se ficassem entediados, podiam passar para frente. Podiam assistir no tempo deles, no ritmo deles. E provavelmente o mais importante é que quando você está aprendendo algo pela primeira vez, a primeira vez que você tenta fazer seu cérebro entender um conceito, a última coisa que se quer é outro ser humano pressionando: “Você entendeu isso?”.
A outra coisa que aconteceu foi que não havia motivos para manter os vídeos bloqueados com senha, então deixei outras pessoas assistirem, e elas começaram a comentar, compartilhar, e passei a receber algumas cartas e retornos de pessoas do mundo todo.
Fui recebendo muitos contatos e percebi que aquilo estava de fato ajudando as pessoas. Quando a audiência começou a aumentar muito, ficou claro que aquilo deveria ser mais do que um hobby para mim. Um exemplo de uma das cartas que recebi: “Meu filho de 12 anos é autista e odeia matemática. Tentamos de tudo, vimos tudo, compramos tudo. Encontramos seu vídeo sobre decimais e ele entendeu. Depois, fomos ver as frações. Novamente, ele aprendeu. Não podíamos acreditar. Ele está tão animado!”. Então imaginem só, eu, que trabalhava no mercado financeiro, achava muito estranho estar fazendo algo de valor social.
Fiquei empolgado, e fui em frente. Então outras coisas aconteceram. Pensei em não só ajudar meus primos, ou as pessoas que enviavam cartas. Como o conteúdo não vai ficar desatualizado nunca, eu poderia ajudar outras crianças e até os netos dessas crianças. Até então, mesmo sabendo que os vídeos seriam um bom suplemento para motivar os alunos, não achei que acabariam entrando nas salas de aula. Mas aí passei a receber cartas de professores, que diziam, “usamos seus vídeos em sala de aula, então mudamos nosso método... eles assistem o vídeo em casa, e fazem os exercícios aqui, conosco”. O benefício é que os alunos podem pausar, repetir e assistir os vídeos, cada um no seu ritmo. Mas o mais interessante é que este formato de aula promove mais interação entre professores e colegas, e a sala de aula fica mais humanizada e integrativa.
Então larguei meu emprego e criei uma organização sem fins lucrativos, e aí fica a pergunta – como dar o próximo passo? Então, nos vídeos, a pessoa tem acesso a dicas, ao passo a passo dos problemas, se não souber resolvê-los. E o processo é assim: você só passa para o próximo conceito se acertar 10 problemas seguidos. E isso é bem diferente do que acontece em uma sala de aula comum.
Em uma sala de aula tradicional, o aluno tem lição de casa, aula, lição de casa, aula, e depois uma prova. E na prova, não importa qual seja sua nota, os professores passam para o próximo tópico. E aí o próximo conceito é ensinado sem que o anterior esteja 100% compreendido. Então para nós, aprender matemática é como aprender a andar de bicicleta. Caia da bicicleta, suba de novo, até aprender a andar de verdade. O modelo tradicional de ensino penaliza você pela experimentação e falha, mas não espera a perfeição. Nós encorajamos as pessoas a experimentar. Encorajamos a falhar, mas esperamos a perfeição, que os alunos aprendam todo o conteúdo.
Acredito no aprendizado diferenciado – cada um tem seu ritmo, e neste modelo, alguns grupos passam por certos tipos de conteúdo mais rapidamente do que outros. Em um modelo tradicional de ensino, já seriam tachados como as crianças prodígio e as crianças mais lentas. Além da aplicação nas salas de aula, imaginem um adulto que tem vergonha de voltar e aprender o que deveria ter aprendido anos atrás? Ou uma criança da Índia, por exemplo, que precisa trabalhar para sustentar a família e não pode ir à escola? Estamos tentando construir justamente isso, a noção de que o mundo todo pode interagir e se tornar uma única sala de aula.

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