Combinados são caros

Por: Felipe Mello
19 Novembro 2017 - 00h00

– Combinado.
– É nóis!
– Certo.
– Firmeza!
– Negócio fechado.
– Tamu junto!
– De acordo.

Para desafios complexos, soluções complexas. Talvez, sim; talvez, não. Sabe por que ando pensando assim? Acho que não sabe, por isso escrevo: a complexidade do desafio embanana a cuca dos mortais. E é natural que seja assim.

A maioria de nós ficou pelo menos 12 anos (só contando até o Ensino Médio) na escola tradicional brasileira: em geral, a escola da repetição, monotonia, violência e tristeza.

Aprendemos a fórceps a desaprender aquilo que era natural a quase todos antes da tal escola: a curiosidade, o espanto, a invenção, a resiliência. Com a capacidade de criação atrofiada, resta-nos voltar ao básico. Passo-a-passo.

Desafios complexos, soluções básicas. Menos porque seja o melhor, mais porque, talvez, seja o possível em termos de coletividade. Melhor a simplicidade honesta e lúcida do que o fazer de conta ingênuo e inócuo de soluções mágicas que iludem com verniz simpático, mas postergam qualquer chance de transformação positiva.

Vamos sair do palavrório e ir pra rua, pra chuva, pra fazenda, pra casinha de sapé? Ando cansado de flutuar nos conceitos por muito tempo, sem pisar no chão e sentir a sua textura, lamas e gramas.

Os conceitos são fantásticos, como as planilhas do Excel: aceitam tudo! É lindo. A gente faz as fórmulas, coloca cores bem bonitinhas nas células e começa a brincar. Às vezes, é mais legal que o Playstation, porque parece mais de verdade, representando a quantificação de um sonho, uma visão do invisível que queremos tornar real, realizar. Mas, depois do Excel, tem o mundo lá fora e os outros, os tus, que às vezes não entendem os sonhos dos eus. Os conceitos são montanhas poderosas. Desafios instigantes e enroscados de subir. Quanto mais alto, menos ar disponível e mais coragem necessária. Mas a gente tropeça mesmo, pra valer e amiúde, é nas pedras do caminho. Eita clichê lascado. Tô nem aí. Parei de me perseguir por deixar escapar clichês aqui e acolá. Sem excessos, simplesmente de forma coerente com a vida, tão lugar comum quase o tempo todo.

Esse rolê foi para chegar ao que sinto e cheiro como básico em nossa sociedade. Desde a invasão atroz dos lusitanos, como não conta a escola velha, que ainda fala em "Descobrimento", e a sequência que até hoje segue de agressões à humanidade e tudo o mais que vive, fizemos do Brasil, terreno fértil em potencial, uma plantação de ervas daninhas e encrencas.

Apesar de minha rabugice proeminente, vivo diariamente como alguém que acredita na possibilidade de melhorar aos poucos o eu, os tus e os nós (ou nozes, se preferir). Não sei se é otimismo/elevação espiritual/ consciência crítica/zelo pelo bem fazer ou simplesmente boia de sobrevivência. Ou um misto de tudo.

O fato é que ando acreditando, mergulhando e convidando para algo, antes e acima de tudo: simplicidade nos combinados e coerência no seu cumprimento, com o tempero da Ética (decisão de oferecer o melhor do eu para proteção e florescimento do nós).

Desafios complexos, soluções básicas. Acordos claros em sua proposição. Direitos preservados e deveres comunicados à exaustão. Mãos apertadas e olhos nos olhos, como ingredientes primários dos encontros humanos, em casa, no trabalho e na rua – pátria como extensão da família, como propôs Rui Barbosa.

Podemos enumerar até o Brad Pitt me ligar, no Dia de São Nunca, o quanto tornamos complexas a Legislação ou a Política, por exemplo. Impossível funcionar assim. Ao menos se desejamos que mais de meia dúzia seja agraciada pelas benesses da complexidade que exclui dezenas de milhões, só no Brasil.

Mas e aí? Por onde começar? Não sei você, mas eu comecei pela revisão nas miudezas do meu cotidiano. Encontrei o OSC. Não estou falando de organização da sociedade civil, mas, sim, do organizar, simplificar e caprichar.

Organizar para enxergar melhor o momento atual, com sinceridade no olhar para si mesmo. Simplificar para reconhecer a ordem de importância do que preciso ser feito, com coragem e desapego de apostar no essencial do momento. E caprichar para caminhar de forma firme e encantada em direção ao melhor de cada um.

Sejamos pontuais. Falemos ou digitemos bom dia ou boa tarde ou boa noite. Deixemos o outro falar também. Justifiquemos menos e realizemos mais. Sejamos consequências reais de nossas melhores causas imaginadas.

Quem sabe, assim, a gente construa montanhas, pedrinha a pedrinha, com Pedros, Marias, Chicos, Antônias apertando mãos e cumprindo combinados que nos sejam caros, no melhor sentido da palavra.

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