Brad Henderson

Por: Valeuska de Vassimon
01 Maio 2007 - 00h00
Uma carreira para pessoas especiais, criativas e otimistas. É assim que Brad Henderson, gerente para a América Latina da Association of Fundraising Professionals (AFP) – Associação de Profissionais de Captação de Recursos, em português –, analisa a profissão de captador de recursos.
Agrônomo de formação, Henderson começou a trabalhar com captação de recursos por meio de trabalhos voluntários no Canadá. Posteriormente, realizou projetos no Equador, Bolívia e Chile, até se tornar o gerente para a América Latina da associação há quase dois anos.
Fundada em 1963, a AFP é a maior entidade de profissionais de captação de recursos no mundo. Um de seus diferenciais é o desenvolvimento do Código de Princípios Éticos e Padrões de Prática Profissional, em que o captador concorda em não receber comissão das doações, por exemplo.
Em relação ao Brasil e à América Latina, Brad acredita que “ainda estamos em um processo de desenvolvimento na área de captação de recursos”, pois, segundo ele, “não fomos criados desde cedo no meio da cultura das doações”.
No entanto, afirma que a maioria das pessoas começa a trabalhar como voluntário em organizações sem fins lucrativos para, posteriormente, ingressar na profissão de captador de recursos.
No Brasil para acertar detalhes sobre o 1º Congresso Internacional de Captação de Recursos para Escolas e Universidades – evento a ser
realizado em São Paulo nos dias 21 e 22 de setembro, numa parceria entre a AFP e as Faculdades Integradas Rio Branco –, Henderson falou à Revista Filantropia sobre captação de recursos no Brasil e na América Latina.


Revista Filantropia: Como o senhor começou a trabalhar na área de captação de recursos?
Brad Henderson: Apesar de ser agrônomo de formação, sempre fui muito envolvido com trabalhos voluntários no Canadá. Tornei-me cada vez mais interessado no ativismo, em ajudar organizações de voluntariado, conseguir fundos para suas causas. Mas foi quando decidi atuar como agrônomo no Equador, há 12 anos, que comecei a trabalhar com captação de recursos. Foi assim também na Bolívia, onde vivi por três anos, e depois no Chile, onde trabalhei em uma organização internacional sem fins lucrativos. Meu papel era de ajudá-los a levantar recursos para moradia na América Latina.
Nos últimos quatro anos em que vivi no Chile, coordenei um trabalho de captação de recursos em nove países na América do Sul, incluindo o Brasil, onde treinamos pessoas para se tornarem captadores de recursos. Como gerente para a América Latina da AFP, meu trabalho é auxiliar o crescimento da associação na América Latina e realizar parcerias com organizações que tenham o mesmo objetivo que o nosso.

Filantropia: Quais são as principais dificuldades dos captadores de recursos na América Latina?
BH: Não temos muitos exemplos para seguir, além de não termos sido treinados desde jovens de que é possível fazer um trabalho como esse na nossa cultura. Apesar de haver, sim, vários exemplos, não fomos criados com o pensamento de que é uma carreira aceitável e que deve ser incentivada de várias maneiras. Precisamos ser motivados no âmbito familiar, como também pelo governo e pela sociedade, de que faz bem doar. E que isso apresenta um impacto positivo tanto para a pessoa que doa quanto para a que recebe.
Há outras dificuldades relacionadas à escassez de questões legais adequadas. Isso é algo que precisa ser melhorado. Também há situações relacionadas à corrupção e à falta de transparência, pois, infelizmente, temos visto exemplos de entidades que receberam recursos, mas não os utilizaram da maneira que deveriam.

Filantropia: Como é o campo de atuação da AFP?
BH: A estrutura de nossa organização é uma série de escritórios ou “clubes”, como se fosse uma espécie de franquia presente nos Estados Unidos, Canadá, México etc. Porém, creio que o ponto que nos une, além de nossa estrutura física, é o código de ética elaborado pela associação, que deve ser seguido pelos 28 mil membros atuais da associação. Também acreditamos que o doador tem seus direitos e que deve ser respeitado. Por isso, dedicamos uma parte do código aos “direitos dos doadores”. Assim, além de seus direitos serem respeitados, conquistamos sua confiança.

Filantropia: O senhor pode dar alguns exemplos de campanhas bem-sucedidas da AFP na América do Norte?
BH: Conheço várias organizações famosas que já levantaram muitos recursos. Um exemplo é a Universidade de Harvard, que possui 30 bilhões de dólares em seus fundos. Com essa quantia, se a faculdade interrompesse as mensalidades dos alunos amanhã, continuaria funcionando por 32 anos sem qualquer renda. Claro que isso é um exemplo extremo, mas há várias outras organizações que tiveram sucesso.
É preciso criar cada vez mais a “cultura da doação” para que a profissão de captador de recursos
cresça no país

Filantropia: E na América Latina?
BH: Há uma grande universidade particular no México, onde existem 32 campi sofisticados e modernos, que realiza uma rifa que já arrecadou US$ 17 milhões (R$ 44 milhões). Eles rifam carros, casas e objetos de grande valor, com o único objetivo de fornecer bolsas para os alunos que não conseguem pagar a faculdade.
Um outro exemplo é uma das organizações que mais consegue captar recursos do Chile, a entidade católica Hogar de Cristo, que existe há 50 anos. Em um país
de 15 milhões de pessoas, eles conseguem captar mais de 30 milhões de dólares por ano.
Quando vivi no Chile, era doador desta entidade. Foi interessante, porque não procurei a instituição, mas voluntários foram até minha casa e perguntaram se eu gostaria de ajudar. Todo mês alguém batia na minha porta, agradecia a doação do mês anterior e perguntava se eu poderia ajudar mais uma vez.

Filantropia: Como o senhor vê o Brasil neste cenário?
BH: Acho que o Brasil é um país bastante generoso. Sei que alguns dos maiores captadores de recursos são das escolas de samba, pois uma alternativa para arrecadar dinheiro é com os próprios integrantes das escolas.
O Brasil possui capacidade para realizar a captação de recursos de forma ética e eficiente. Não é gastar R$ 2 para arrecadar R$ 1; é preciso que seja um trabalho sério. E o país certamente tem capacidade e dinheiro.
Filantropia: Quais são os princípios básicos do código de ética da AFP?
BH: Um dos pontos mais importantes é que o captador de recursos deve sempre revelar ao doador como seu dinheiro será usado, quem a organização representa, sua mesa diretora, seu presidente, sua situação financeira. Ele também deve enviar relatórios sobre como o dinheiro do doador será gasto.
Sendo assim, uma parte muito importante do código de ética da AFP é que o captador de recursos jamais deve cobrar comissão ou receber parte do valor doado. Se você doa R$ 100 para minha organização, não é ético que eu embolse R$ 5 como parte do meu salário. Os captadores de recursos são como os advogados ou contadores da organização. Eles fazem parte da equipe e devem ser pagos como qualquer outro profissional que trabalhe na instituição.
Quando se cria uma comissão e há o conceito de que parte do dinheiro vai para a pessoa que o recebe, o interesse dessa pessoa corre o risco de ser colocado acima do interesse da organização. Às vezes, ela até pode pedir dinheiro para quem não deve. Outras, aceita dinheiro que não deve só para poder ter sua parte. Além disso, os doadores querem saber que todo o seu dinheiro realmente foi para a causa em
que acreditam.

Filantropia: Qual deve ser o papel do governo em relação às organizações que querem captar recursos?
BH: O governo deve fazer uma parceria para facilitar a criação de um ambiente em que organizações sem fins lucrativos, como universidades, escolas, hospitais, entidades de caridade, entre outras, tenham as ferramentas legais de que precisam para captar recursos e ter incentivos. O governo também deve incentivar a “cultura da doação” por meio de práticas que tornem a captação de recursos o mais transparente possível.
Nos Estados Unidos, por exemplo, há uma espécie de banco de dados de todas as organizações sem fins lucrativos do país em que as pessoas têm acesso a informações como localização da instituição, atividades, representantes, recursos e rendas etc. Esse tipo de transparência incentiva a confiança na organização. Essa “cultura de abertura” é algo que o governo deve sempre trabalhar.
Filantropia: O senhor pode dar algumas dicas para as pessoas que querem trabalhar com captação de recursos?
BH: A primeira coisa que as pessoas podem fazer é realizar algum trabalho voluntário com causas que considerem importantes. Ao trabalhar com voluntariado ou em alguma ONG, é possível entender a paixão das pessoas envolvidas nessa área. Aconselho a começar como voluntário, ajudando uma organização de que goste, que cuide de animais, meio ambiente, mulheres, etnias, crianças, qualquer coisa. Geralmente, as causas com as quais nos preocupamos são as que queremos ajudar.
Também há a possibilidade de freqüentar cursos. Nossa associação, por exemplo, oferece conferências, congressos e cursos em geral que permitem que as pessoas façam um treinamento. Outra maneira de se informar é por meio de livros publicados sobre o assunto, mas, infelizmente, são poucos os traduzidos para o português.
Essa é uma outra forma de aprender sobre a melhor forma de começar, porque apesar de ser algo diferente, não é novo. Não é como se tivéssemos que reinventar a roda. Só precisamos ler e entender o que está aí. Além disso, muitas das informações sobre captação de recursos estão disponíveis na internet.

Filantropia: Qual a sua opinião sobre a carreira de um captador de recursos?
BH: Acho que é uma ótima carreira. Temos 28 mil membros na AFP, e a maioria é do sexo feminino (78%). Essas pessoas costumam ganhar mais dinheiro fazendo captação de recursos do que se trabalhassem em outro lugar que exige o mesmo nível de escolaridade. Isso porque é um trabalho para pessoas especiais, positivas, criativas, entusiastas, com muita energia e que gostam de ver resultados. Se você é esse tipo de pessoa, acredito que é uma carreira maravilhosa e o incentivo a segui-la.

Filantropia: Fale um pouco sobre o 1º Congresso Internacional de Captação de Recursos para Escolas e Universidades, que acontecerá em setembro, no Brasil.
BH: Estamos animados com o congresso, porque queremos atrair os líderes das maiores universidades e escolas brasileiras para terem contato com líderes de captação de recursos de outras partes do mundo. Convidamos especialistas de universidades e de administração financeira para dividirem suas experiências na área de captação de recursos.
Teremos palestrantes da Universidade de Harvard, dos Estados Unidos, da Universidade do Pacífico, de Lima, no Peru, além de um palestrante do Havaí e um membro do conselho diretor da Universidade de Oxford, da Inglaterra, entre muitos outros. Pretendemos fazer uma programação que comece bastante generalizada e, aos poucos, mostre os detalhes das experiências na América Latina e a melhor maneira de segui-las, além de abordar o atual papel do captador de recursos. Também queremos falar sobre a experiência do Brasil no setor e discutir algumas sugestões de melhorias e mudanças.


AFP
www.afpnet.org


 

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