Um levantamento realizado pela SustainAbility em conjunto com a rede GlobeScan de institutos de pesquisas, representada pela Market Analysis no Brasil, avaliou 108 instrumentos que ajudam a avaliar a performance em sustentabilidade no mundo
Em tempos de transparência radical, considerada uma das dez tendências-chave da sustentabilidade para a próxima década, sinalizar de forma clara e objetiva o desempenho corporativo em responsabilidade socioambiental é uma decisão impreterível. Tão importante quanto sistematizar sua medição é acompanhar o maior ou menor alinhamento das políticas sustentáveis da empresa com as expectativas e percepções dos stakeholders. Não surpreende, então, que, à medida que a sustentabilidade vai amadurecendo como integrante central à vida corporativa, surjam dezenas de indicadores visando apontar o estágio no qual se encontram as empresas. Mas até que ponto as organizações conseguem incorporar e fazer uso desses indicadores nas decisões corporativas?
Ferramentas para mensurar — e também para informar — o desempenho das empresas em termos de sustentabilidade parecem não faltar. Um levantamento realizado pela SustainAbility em conjunto com a rede GlobeScan de institutos de pesquisas, representada pela Market Analysis no Brasil, avaliou 108 instrumentos que ajudam a avaliar a performance em sustentabilidade no mundo — um número impressionante por si só, afinal, há dez anos existiam somente 21 deles. Os indicadores disponíveis são os mais variados: desde o pioneiro índice de sustentabilidade Dow Jones até os indicadores de manejo de emissões de carbono, como Carbon Disclosure Project, ou de identificação da governança socioambiental, como o do instituto Ethos e do GRI, passando por medidas mais setoriais, como o acesso a medicamentos desenvolvido pela Access to Medicine Foundation. Há também instrumentos mais abrangentes, como o ranking das empresas mais admiradas da revista Fortune, dentre muitos outros. Por outro lado, sabemos que apenas uma minoria do universo empresarial brasileiro se preocupa e consegue mensurar a percepção e o retorno dessas ações junto a seus stakeholders para embasar ações futuras1. Como entender o paradoxo de nos defrontarmos com um quadro de grande oferta, mas baixa demanda, em algo tão estratégico como diagnosticar o cenário de atuação?
Visando responder a essa e outras perguntas-chave, consultamos 850 stakeholders com experiência na área de sustentabilidade em 70 países. A primeira surpresa é que, apesar de estarem envolvidos no seu dia a dia com temas e políticas de sustentabilidade empresarial, seu grau de conhecimento dos indicadores de sustentabilidade se revelou bastante restrito2. Dentre os indicadores avaliados, somente três são conhecidos por pelo menos metade dos especialistas: o índice Dow Jones de sustentabilidade (o primeiro indicador de sustentabilidade desenvolvido), o Carbon Disclosure Project (um projeto que auxilia cidades e empresas a diagnosticar seu estágio ambiental e construir políticas de adaptação às mudanças climáticas) e o FTSE4Good Index (que mensura o desempenho de empresas em termos dos padrões mundiais de responsabilidade corporativa). São esses também os instrumentos que maior credibilidade possuem entre os experts da área, sendo o indicador de manejo de carbono o que obtém mais legitimidade entre esse público: 65% dos gestores confiam nessa ferramenta.
Mas nem todos os indicadores são tidos como críveis pelos stakeholders, e uma forma de entender essa percepção é por meio das instituições por trás desses indicadores. Os índices desenvolvidos por ONGs são os que obtêm maior credibilidade entre especialistas, como, por exemplo, o Guia de Eletrônicos Verdes, produzido pelo Greenpeace. Na segunda posição estão os rankings, como o Monitor de Sustentabilidade Corporativa, desenvolvido pelo instituto Market Analysis desde meados dos anos 2000, que apresenta as dez melhores e piores empresas em sustentabilidade no Brasil. Indicadores formados por empregados de empresas também conquistam credibilidade, a exemplo do ranking de melhores empresas para se trabalhar, desenvolvido pela Great Place to Work. E as medidas construídas por investidores e analistas, tais como o índice de Sustentabilidade Empresarial desenvolvido pela Bovespa, também inspiram confiança em um a cada três gestores. Indicadores formados por consumidores, jornalistas e pelo governo são os que obtêm a menor confiança.
Ainda que se tenha disponível uma grande variedade de instrumentos, tanto do tipo genérico quanto daqueles direcionados para setores da economia e aspectos específicos, o uso dessas ferramentas de avaliação e monitoramento é bastante restrito pelos gestores. Com efeito, um em cada três especialistas não acessa esse tipo de informação mais de uma vez por ano, e somente um em cada quatro utiliza mensalmente essas referências para seu trabalho. Na maioria das vezes, os indicadores são utilizados para ganhar inteligência para a empresa no desenvolvimento de políticas de sustentabilidade ou para buscar referências de benchmark. Por outro lado, um terço dos stakeholders ignora métricas e parâmetros de atuação para a tomada de decisões, e quase outros 30% só os consultam uma vez por ano. Surpreende, então, que os gestores encontrem dificuldades para saber onde estão parados?
Diante da multiplicidade de opções e da maior legitimidade que os indicadores vêm alcançando como ferramentas de avaliação e monitoramento, não há como supor que a baixa adoção desse tipo de referências seja fruto da escassez de meios de informação corporativa. Por outro lado, essa mesma diversidade e crescimento exponencial refletem o interesse e até a pressão da demanda por contar com formas práticas de diagnosticar e orientar as ações corporativas. Como entender, então, esse pendor pelo risco de caminhar às cegas na gestão da atuação sustentável de tantas empresas?
A tentação de lançar mão de respostas que contenham racionalizações de todo tipo é muito grande. “É porque os gestores de sustentabilidade carecem de tempo e recursos humanos.” “Sabemos que esse problema existe.” “É porque os gestores ainda desempenham um papel periférico nas grandes organizações.” Infelizmente, é verdade na maioria das corporações. Contudo, outra resposta parece mais potável, desta vez em formato de pergunta e sem aspirar a justificar as escolhas logicamente: “Por que deveria ser diferente?”. Afinal, sabemos, por exemplo, das ameaças das mudanças climáticas, suas causas e consequências, mas a vasta maioria dos governos, sociedades e empresas não consegue agir de forma diferente, nem sequer cumprir com os compromissos assumidos. A inércia pode, em definitiva, ser ubíqua.
Podemos superar essa inércia? É o que a história dos grandes escândalos corporativos em sustentabilidade dos últimos anos nos aconselha. A British Petroleum afundou sua imagem no acidente do Golfo do México por ignorar a informação de indicadores de performance. O Wal-Mart está se expondo a um novo questionamento ético após ter negligenciado seus próprios parâmetros de governança anticorrupção no México. A Nestlé ficou exposta por desatender suas referências internas de sustentabilidade na cadeia de valor ao comprar matéria-prima vinda de regiões de desmatamento ilegal na Indonésia. Em todos os casos, ferramentas indicativas e operacionais existiam, a informação circulava de maneira livre e formal, gestores operavam políticas corporativas calcadas em princípios sustentáveis, mas a inércia primou. O custo em receita, reputação e talentos perdidos pode até ser incalculável, mas a admissão desses prejuízos parece ser suficiente motivo para reconhecer o papel vital das métricas indicativas da posição de toda empresa diante do desafio da sustentabilidade.
1 “A hora de escutar os stakeholders”, Revista Ideia Sustentável, Setembro 2012.
2 Pesquisa “Rate the Raters 2012 – Polling the Experts” realizado pela SustainAbility e GlobeScan.
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