As circunstâncias da nossa existência fazem com que, ao nascermos, estejamos inseridos em um contexto físico, social, econômico e cultural em alguma parte do nosso globo terrestre. Já ao nascer todos os sentidos da criança agem voltados para que nos adaptemos ao novo e difícil ambiente, pois que a busca pela sobrevivência é um fato natural. Todavia, se os sentidos procuram a inclusão, as circunstâncias econômicas, sociais ou culturais podem formar barreiras que, separadamente ou em conjunto, excluem o indivíduo, marginalizando-o e tornando-o um verdadeiro pária social, à mercê, normalmente, de situações negativas e que, somente através de canais-de-ajuda, poderão tirá-lo daquela condição.
Desde os primórdios da nossa existência, os humanos vêm criando instrumentos para melhorar a vida, facilitar o trabalho, ter mais alimentos e usufruir bens culturais em um processo de verdadeira espiral de descobertas e novas criações. Assim, cada geração deu sua contribuição para que a sociedade tenha chegado ao progresso que temos, e que continuará cada vez mais veloz. Uma das mais extraordinárias criações humanas foram as letras, ou seja, o alfabeto. Inicialmente, as figuras de objetos ou a escrita cuneiforme dos Sumérios era a maneira existente para preservar ou passar informações. Entretanto, a fase mais genial que tivemos do poder inventivo humano foi quando se concretizou a passagem das figuras para os símbolos abstratos, ou seja, para as letras, e estas passaram a ter vida própria. Isso ocorreu há aproximadamente 5 mil anos, principalmente com os Fenícios. Com o passar dos anos, cada povo foi adotando e adaptando o conjunto de letras conforme a peculiaridade da respectiva língua, havendo uma estruturação lógica das mesmas: como são grafadas e a maneira como interagem. A partir de então, passamos a ter um dos mais importantes instrumentos de transmissão do conhecimento.
Atualmente, quando uma pessoa conhece o alfabeto, sabe ler, entende o que leu e sabe escrever, diz-se que está alfabetizada, ou seja, possui o instrumento para adquirir conhecimento, tem condições de se localizar, de saber o que assina, pois está, através das letras, no mundo criado para nos comunicarmos. Assim, por meio da alfabetização corretamente feita adentramos para o mundo da informação escrita, que independe de outras formas de comunicação.
Nas condições em que a sociedade se encontra hoje, alguém que não sabe ler e escrever é um excluído social. Está à margem dos acontecimentos divulgados em jornais, revistas ou livros. Não possui perspectivas para exercer um trabalho que lhe proporcione melhor gratificação. Está mergulhado em um mundo de informações escritas, mas algemado pelos grilhões da ignorância, vivendo a escuridão do analfabetismo. A pergunta que brota de maneira natural é: como a população brasileira se encontra nessa área? É doloroso constatar que pesquisas nacionais e estrangeiras de muitos anos vêm demonstrando que temos aproximadamente 75% da população na condição de analfabeta funcional. O mais triste é a pesquisa do IBGE publicada no final de 2012, a qual constatou que 38% dos nossos universitários leem e escrevem mal. Diante dessa lamentável realidade, qual é a perspectiva de o Brasil ter um desenvolvimento sustentável? De seus cidadãos terem melhores perspectivas de vida? Certamente, muito poucas.
A partir principalmente de 1980, os orientadores pedagógicos passaram a insistir para que fosse adotado nas escolas o denominado “construtivismo”, e que se mantém na maioria das estruturas oficiais como uma verdade única até hoje, mas cujo resultado é um país com a maioria da população na condição de analfabeta funcional: quase 40% dos nossos universitários leem e escrevem mal, crianças passam anos para serem alfabetizadas, é uma verdadeira desgraça nacional. É o círculo vicioso da ignorância funcionando, colocando os cidadãos e o próprio país na perspectiva de serem dominados pelos que possuem conhecimento e tecnologia.
Começou no Rio Grande do Sul uma verdadeira revolução pedagógica na área da alfabetização, tendo em vista que o Programa de Alfabetização com Construtivismo Lógico proporciona sua realização em quatro meses, de maneira lúdica, lógica e natural. Assim, tendo a “lógica” como elemento central das ações pedagógicas, a mesma faz um enlace entre os elementos positivos dos métodos analíticos (construtivistas) e dos métodos sintéticos (ditos tradicionais) em favor dos alfabetizandos. Façamos uma comparação: atualmente, se dermos para uma criança um celular, um tablet ou a colocarmos frente a um computador, em dois toques ela estará nos dando aulas de como esses instrumentos da modernidade funcionam, pois ela imediatamente capta a “lógica” do seu funcionamento. Mas, então, por que as crianças em sala de aula demoram tanto tempo para serem alfabetizadas? É porque o construtivismo aplicado não possui lógica, é aleatório. Os professores alfabetizadores ficam como meros espectadores das “descobertas” dos alfabetizandos, quando deveriam ser os condutores ou indutores de uma boa, correta e rápida alfabetização.
O já citado programa de alfabetização, por ter a lógica como elemento condutor das ações pedagógicas, possibilita que seja aplicado como instrumento de resgate social para qualquer público-alvo. Na cidade de Vacaria foi aplicado para pessoas adultas e, entre elas, alguns garis. Em Porto Alegre e Caxias do Sul, em escolas infantis do Pré 2, a maioria das crianças foi alfabetizada antes de entrar na 1ª série do ensino fundamental. Em Jaquirana, para alunos que não se alfabetizaram até a 3ª serie do ensino fundamental. Em Tramandaí e Caxias do Sul, em turmas de currículo normal e, em 2015, em São Leopoldo, para crianças carentes, e também em turmas de deficientes.
Contra fatos não há argumentos, e o construtivismo lógico na alfabetização vai firmemente demonstrando que é o instrumento adequado de inclusão social e resgate dos socialmente excluídos, pois rapidamente os coloca na condição de cidadãos, dando-lhes dignidade e instrumentalizado-os para o mundo do conhecimento, contribuindo para que a educação formal melhore, iniciando pela base.