A balada da cidadania

Por: Felipe Mello, Roberto Ravagnani
21 Agosto 2013 - 01h01

Um rapaz foi à balada. Há tempos, sentia-se um tanto quanto rejeitado, carente, descrente em relação à aproximação humana. Também por conta disso, mas principalmente pela sua história, tinha pouco costume de prestigiar programas coletivos. Preferia ficar em casa, gastando o sofá e os botões do controle remoto. Conhecia de cor e salteado toda a programação das emissoras de televisão abertas e fechadas. Resistia em confessar, mas era quase devoto da combinação futebol, novela e Faustão.
Naquela noite, decidiu fazer diferente. Sentiu um chamado das ruas. Algo estranho, que surgiu quase do nada. Ouviu dizer que a festa seria boa, que valia a pena se mobilizar e comparecer, rompendo com a inércia aparentemente confortável. A mistura foi explosiva: vontade de mudar algo, embora sem muita clareza, e a sensação de que aquela noite prometia algo especial. Preparou-se e foi, de mãos dadas com uma angústia esperançosa.
Chegou ao endereço da balada bastante ressabiado. Muita gente, pouquíssimos conhecidos. Estranharam a sua presença de imediato. Questionado, disse que estava na hora de fazer diferente.
Circulou para reconhecer o local. Música em alto volume, animação crescente, refrões cantados em uníssono como se tivessem sido ensaiados. Poucas vezes, ele esteve em um local com tantas pessoas em um mesmo metro quadrado. Lembrou-se do transporte público de sua cidade, o que o fez até se sentir menos mal. Há anos, era treinado tal como gado a suportar o confinamento diário em busca de seu destino.
Em determinado momento da noite, entre os flashes das luzes coloridas que rompiam parcialmente a penumbra, ele percebeu a presença de uma mulher linda. Se ele pudesse desenhar uma parceira dos sonhos, provavelmente teria aqueles cabelos, estatura, curvas em abundância e aqueles olhos. Entregou-se ao momento, voltando a sonhar com o improvável. Seria ela?
O que eram aqueles olhos? Enfeitiçado, deu dois passos adiante. Trombou em três ou quatro pessoas em busca de uma aproximação. Ela dançava incrivelmente bem. Ele chegou mais perto.
Foi então que percebeu algo: embora não pudesse afirmar com todas as letras, tudo indicava que ela piscara para ele. Mesmo em meio à escuridão própria das baladas, ele quis se convencer de que recebera o sinal para avançar. Tomado por uma coragem inédita, não hesitou.
Em segundos, tirou todas as peças de roupa que vestia e correu em direção àquele oásis que fazia brilhar o seu deserto afetivo. Nu, excitado ao extremo, jogou-se sobre ela, que só conseguiu emitir um grito estridente de repúdio.
As pessoas presentes levaram alguns instantes para perceber o que estava acontecendo, mas quando entenderam a situação, a represália foi quase absoluta. Aquele jovem rapaz, Romeu desgovernado, apanhou muito, muito mesmo.
Em vez de um encontro com a mulher desejada, o que conseguiu, depois de dois dias hospitalizado, foi o encontro com um delegado com cara de poucos amigos.
O nome da moça era Cidadania. Ela nem se lembra se realmente piscou para o rapaz. Afirmou, ainda assim, que se tivesse piscado, era para que ele se aproximasse aos poucos, decidido, mas com respeito. Queria ser cortejada, bem tratada, seduzida a se entregar.
Podia levar alguns dias, semanas ou até meses, mas se fosse conquistada, retribuiria toda a paciência com muito carinho.

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