Marupaúba

Por: Maria Theodora Paiva de Barros
09 Junho 2016 - 04h47

 

A história que não foi contada

Esta pesquisa foi realizada no Pará, com o intuito de subsidiar a Rede Associacional de Defesa de Direitos local, e trata da história de Marupaúba, comunidade de Tomé- Açu, para identificar a presença de afrodescendentes na região com o objetivo de subsidiar o trabalho de autorreconhecimento do movimento negro. Na referida região existe uma população afrodescendente que reside no local há mais de 150 anos e cujos ancestrais eram negros que vieram da África para serem escravizados no Brasil, porém até o momento não se tem referência na história de como se estabeleceram por ali. O estudo que apontou para a existência de quatro irmãos oriundos da África e que deram origem à população que hoje vive em Marupaúba foi referenciado no tempo e no espaço como uma pesquisa histórica, além de terem sido feitas perguntas abertas e visitas a alguns sítios arqueológicos, cemitério etc.

No Brasil, encontram-se afrodescendentes do Oiapoque ao Chuí. A colonização impetrada pelos portugueses espalhou a população negra por todo o país. No estado do Pará somente no século XVIII a mão de obra escrava foi introduzida. A introdução do trabalho exógeno sob regime de escravidão ocorreu com mais evidência na região depois de 1755, quando houve a libertação dos indígenas e a necessidade de substituição de sua mão de obra.

A presença de negros na região do Marupaúba tem relação direta com a introdução dos africanos como mão de obra nas fazendas do município de Acará (PA), que foi criado sob a denominação de Paróquia de São José de Acará, em 1758, pertencendo ao município de Moju (PA).

O município de Tomé-Açu fica distante da capital Belém (PA) cerca de 220 km, está localizado na região nordeste do estado paraense, pertence à microrregião de Tomé-Açu (Vale do Acará) e seus primeiros habitantes foram os índios tembés.

Tomé-Açu é resultado da expansão imperialista dos países desenvolvidos ocorrida após a Primeira Guerra Mundial por intermédio de um acordo entre os governos brasileiro e japonês, alicerçado por um contexto de mudanças no Japão quando da passagem do regime feudal à sociedade industrial capitalista, do aumento da pressão demográfica e da falta de recursos primários básicos.

Quando os japoneses chegaram a Tomé-Açu, além dos indígenas, já existia uma população que habitava diversas comunidades rio abaixo.

O local onde foi desenvolvida a pesquisa está situado na chamada região do Marupaúba, a aproximadamente três horas de barco da sede do município, com acesso terrestre pelo km 34, ramal de Marupaúba, à direita da rodovia PA-140 e às margens do Rio Acará-Mirim. Essa região é constituída por 11 comunidades com cerca de 450 famílias.

A origem da população residente na região do Marupaúba remonta à época da colonização da Província do Grão Pará, quando aquela região, pertencente ao hoje município de Acará, foi doada em sesmarias para portugueses que, juntamente com seus escravos, foram habitá-la. Constitui uma população ainda com características de população tradicional amazônica, referenciada e situada em uma dimensão espacial. Espaço entendido como um produto social, onde essas famílias, em constante movimento, ao mesmo tempo em que são alvo, passam a demandar serviços para atender as suas necessidades de sobrevivência, mantendo uma relação com o mundo global na qual as concepções do tempo e do espaço são criadas necessariamente mediante práticas e processos materiais que servem à reprodução da vida social.

Os caboclos consistem na maioria da população residente na região do Marupaúba. São descendentes de remanescentes de negros escravizados no Brasil que ocuparam aquela área de terra, localizada às margens dos rios e nas proximidades dos igarapés e cujas terras possivelmente foram doadas pelos escravocratas. Encontram-se ainda ali, em menor quantidade, pessoas que migraram de outros estados e municípios, atraídos pela oportunidade de trabalho nos pimentais, que se casaram com as filhas do lugar e permaneceram na comunidade.

O nome dado à região, de acordo com relatos dos antigos moradores, é referência a uma grande árvore conhecida como marupá, madeira branca utilizada para fazer caixões e tamancos, que existia na entrada do igarapé de mesmo nome.

Segundo conta Crescêncio da Graça Paiva, 94 anos, morador antigo do Marupaúba, o senhor que era dono daquelas terras se chamava Antônio Carlos de Freitas Damasceno e, entre os escravos desse senhor, estava a avó do relator (Bibiana Maria da Graça) e mais três irmãos (Narciso, Gentil e Ingrácia), que eram africanos e deram origem à maioria das famílias que hoje mora na região.

Em entrevista, a Raimunda Coutinho de Almeida, 106 anos, de apelido Biriquita, residente no sítio Paruru, município de Acará, refere-se: “Dantes quando você trabalhava pra alguém que tinha dinheiro e se você fosse fiel, a terra lhe era doada”.

Sabe-se que as terras no Brasil foram doadas por cartas de sesmarias e que essas concessões se davam inicialmente em caráter provisório. Para a legalização da carta se faziam necessárias a ocupação e exploração da área pelo sesmeiro, a demarcação da área recebida e a confirmação da carta de sesmaria pelo rei. No Marupaúba não se tem referência se os senhores cumpriam os critérios estabelecidos e se possuíam por direito as terras. Infere-se que após o desaparecimento de Antônio Carlos de Freitas Damasceno, seus escravos tenham ficado na terra.

Crescêncio também se referiu a outras famílias que residiam na região: “A avó do Pitotó era escrava também. Morreu velhinha, com 120 anos. Morreu em 1939, dia 11 de junho. Ninguém compreendia o que ela falava”.

A informação é de grande relevância, pois ratifica a presença dos negros na região desde cerca de 1840, em pleno período da cabanagem.

Ressalta-se que a história da região é de uma riqueza imensa, porém muito já foi perdido. Contar a história da ocupação do Marupaúba se constitui em um rico acervo cultural, que mescla diversos elementos e marca a presença em diferentes épocas de negros e brancos naquela localidade.

A invisibilidade do negro na história do município de Tomé-Açu é mais um desafio que se tenta superar por meio da pesquisa e da luta pelo movimento negro para a implementação de políticas públicas que possam dar qualidade de vida a essa população. Portanto, recontar essa história é incluir os negros na dinâmica histórica do município e divulgar sua verdadeira história.

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