Até 2019, o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) não tinha a designação ‘contadorA’ nas novas carteiras de identidade profissional. ‘Contador’ era o título que qualificava o profissional, independentemente do gênero.
Depois de muita persistência, conseguimos mudar, e eu tive a honra de receber a primeira carteira com esse A tão poderoso, símbolo de transformação e atualização, das mãos do presidente do CFC, Zulmir Ivânio Breda, em fevereiro do ano passado.
Mais que uma conquista, o ato reafirma a presença feminina na profissão contábil - hoje, somos 47% entre os profissionais de contabilidade.
Como primeira mulher a disputar uma eleição e cumprir o mandato completo no comando do maior Conselho de Contabilidade do Brasil, o CRCSP, considero o manifesto do feminino como uma das minhas principais realizações.
Durante a minha gestão, criamos o projeto Universo Contábil com Elas, com o objetivo de valorizar e empoderar as especialistas de diversas áreas técnicas da contabilidade em atividades que foram promovidas na capital e no interior do estado.
Também conquistamos o reconhecimento de gênero nas categorias de contadora e técnica em contabilidade com o lançamento do aplicativo CRCSP Digital.
Durante a 26ª Convenção dos Profissionais da Contabilidade do Estado de São Paulo (Convecon), inovamos ao aumentar o número de mulheres no palco. Nos painéis, debates e palestras, o número de mulheres foi historicamente superior em relação às edições anteriores.
Esses fatos confirmam que os avanços na questão da igualdade de gênero só são possíveis graças à atuação ativa de mulheres em ambientes predominantemente masculinos, fazendo-se necessário eliminar barreiras, fortalecer a manifestação do feminino e criar oportunidades para homens e mulheres, juntos, transformarem padrões sociais, econômicos e políticos.
Pesquisas comprovam que a comunidade se beneficiaria se aproveitasse 100% dos talentos. A desigualdade exclui a todos, prejudica a economia e os negócios. Gênero é energia! Juntos, homens e mulheres, são mais fortes.
Incorpore a inteligência feminina no processo decisório da sua empresa e, com certeza, você conseguirá aumentar a competitividade da sua marca.
Contar histórias e se comunicar bem é a habilidade do mundo moderno. Técnicas para uma comunicação não violenta ajudam no desenvolvimento humano. A comunicação é uma qualidade feminina: a sutileza e a sensibilidade vêm desde a maternidade, seja no cantar ou encantar.
Temos aptidão para desenhar e realizar sonhos. Somos mais flexíveis para lidar com situações ambíguas, sensíveis em relação à necessidade dos outros e da comunidade, e valorizamos o respeito ao meio ambiente.
Além disso, gostamos do trabalho em equipe, somos perseverantes e constantes, agimos de forma menos imediatista e com maior capacidade de raciocinar a longo prazo. Somos capazes de fazer várias coisas ao mesmo tempo, temos mais jogo de cintura para lidar em tempos de aperto, somos mais curiosas e temos sede de aprendizado contínuo.
Nós possuímos a maioria das competências exigidas dos novos líderes - imaginação humana, criatividade, inovação, cuidado e escuta dos seus colaboradores - mas não há mulheres suficientes em posições de liderança. Temos um jeito próprio para liderar, um modelo diferenciado de gestão, mas precisamos nos empoderar e canalizar essa força para o mundo à nossa volta. Com empatia, quebraremos resistências e romperemos barreiras.
A segunda edição da pesquisa Panorama Mulher indica que somente 32% das empresas no Brasil têm alguma política interna de igualdade de gênero. Por outro lado, o mesmo estudo aponta que, quando existe a inclusão feminina nos cargos de liderança, a quantidade de mulheres contratadas também tende a aumentar. Quando a presidente é mulher, aproximadamente 34% do quadro da empresa é feminino, contra 18% se o presidente for homem. Para cargos de diretoria, o número é de 45% contra 23%.
De acordo com a última edição da International Business Report (IBR) - Women in Business 2019, pesquisa da Grant Thornton com mais de 4,5 mil empresários no mundo todo, as mulheres brasileiras ocupam 25% dos cargos de liderança. Para as posições do mais alto nível nas corporações, apenas 15% das companhias possuem uma mulher no topo.
Sim, é preciso mudar essas estatísticas!
Acredito que tudo começa com uma decisão estratégica dentro das organizações. A mudança requer uma nova cultura no ambiente de trabalho, o fim dos preconceitos nas contratações e promoções, e métricas que permitam enxergar as diferenças e adotar um plano de ação.
Incentivar debates pode gerar bons resultados e aumentar a consciência da importância de mais mulheres em cargos mais altos.
Empoderar é ter voz ativa, por isso mais que ativistas para criar um ambiente favorável, nós, mulheres, também precisamos acreditar no potencial que temos, participar, concorrer e principalmente apoiar outras mulheres.
Somos únicas, provando todos os dias que temos capacidade e podemos transformar. Juntas somos sempre mais fortes!