Pesquisas, indicadores e especialistas atestam melhorias na qualidade de projetos e programas desenvolvidos por organizações brasileiras
So what? Now what? – E daí? E agora? Responder a estas duas perguntas – que teoricamente parece algo simples de se fazer – é essencial a fim de que qualquer organização social conheça os resultados mais fidedignos de um projeto ou de uma estratégia.
Do outro lado do balcão, o mesmo vale para os doadores que acreditam e colocam recursos em determinada causa. Trata-se de um trabalho com metodologia correta e conhecimento sobre o tema em questão, pois compreende uma profunda análise de indicadores quantitativos e qualitativos.
É o que a britânica Jane Davidson, autora do livro “Evaluation Methodology Basics: The Nuts and Bolts of Sound Evaluation” e doutora em Psicologia Organizacional, chama de critérios e rubricas. Ao passar pelo Brasil em 2012, a mesma participou do seminário “A relevância da avaliação para o investimento social privado”, promovido pelas Fundações Itaú Social e Roberto Marinho, em parceria com a Avaliação e Estratégia em Desenvolvimento Social (Move) e a Fundação Santillana.
“O sucesso de uma avaliação de projeto está na escolha das perguntas certas a serem feitas, formuladas por meio de uma análise de contexto. Só então é possível elaborar os indicadores e os critérios que servirão de base para tal aferição. Não se trata do que podemos ‘medir’, e sim o que precisamos ‘saber’”, explica a especialista.
A mesma visão é compartilhada pelo administrador público Michel Freller, sócio-fundador da “Criando Consultoria” e membro do Conselho Fiscal da Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR). De acordo com ele, não é suficiente afirmar: “atendemos X mil crianças ou servimos X milhões de refeições”.
“É fundamental mostrar que vidas foram mudadas e/ou salvas. Também não é necessária uma grande quantidade de indicadores se conseguirmos respostas às nossas perguntas apenas com alguns. A chave é ter uma proposta clara, envolvimento correto de todas as partes envolvidas (stakeholders), fazer perguntas importantes, conhecer o quadro como um todo (big picture), ter respostas claras baseadas em evidência, e não em achismos e intuições”, explica Michel.
Devido ao cenário atual vivenciado pelo Terceiro Setor brasileiro, a qualidade dos projetos apresentados a possíveis financiadores no momento da captação de recursos melhorou. Não apenas os especialistas analisados pelo Grupo de Institutos Fundações e Empresas (GIFE) atestam esta assertiva, mas também os próprios associados participantes do Censo GIFE 2011-2012, lançado no final de novembro.
A pesquisa contou com respostas enviadas por 100 dos 144 membros da Rede GIFE, entre empresas, fundações e institutos corporativos, comunitários, familiares e independentes, os quais afirmaram que investiram, em 2012, R$ 2,35 bilhões – um aumento de 8% em relação a 2011.
O incremento dessa visão é chancelado pela pesquisa “Abordagens e práticas da avaliação de iniciativas sociais no Brasil”, conduzida em 2011 e ao longo de 2012 em uma parceria entre o Instituto Fonte, a Fundação Itaú Social, o Instituto Paulo Montenegro e o Ibope Inteligência. Segundo outra pesquisa realizada pela mesma parceria em 2009, “A avaliação de programas e projetos sociais de ONGs no Brasil”, 91% das 363 ONGs pesquisadas declararam que já avaliaram seus projetos – parte delas com avaliadores externos, e ainda 96% delas pretendem avaliar.
“A maioria das organizações sociais faz avaliações periódicas, muitas vezes para a promoção de seus projetos. Os gestores precisam ver este procedimento como essencial para a tomada de decisões e para o próprio redirecionamento de seus projetos”, argumenta a psicóloga Martina Rillo Otero, consultora do Instituto Fonte e coordenadora de tais estudos.
O reforço a esta constatação pode ser observado na “12ª Pesquisa Nacional sobre Responsabilidade Social e Práticas Sustentáveis nas Empresas 2011”, realizada pelo Instituto ADVB de Responsabilidade Socioambiental (IRES), que se baseou em dados enviados por 2.872 empresas participantes – sendo 33% de grande porte; 56%, médio; e 11%, pequeno.
Segundo o levantamento, 87% das empresas declaram que ações de responsabilidade social integram a sua visão estratégica; 79% afirmam que a alta administração participa e se envolve nos programas sociais; para 52%, é necessário aprimorar a gestão social interna com a criação dos Indicadores de Projetos Sociais; e 86% desenvolvem programas sociais voltados à comunidade. Além disso, 41% das companhias têm planos de aumentar os recursos nos projetos sociais externos que vêm sendo desenvolvidos. A mesma pesquisa revelou ainda que o investimento social das empresas está alocado em cinco principais áreas, pela ordem: educação, cultura, esporte, meio ambiente e qualificação profissional. Estes recursos giram, em média, em torno de R$ 1,15 milhão ao ano.
“Cresce aceleradamente a percepção das organizações quanto aos princípios orientadores da visão socialmente responsável corporativa e das práticas sustentáveis. Cada vez mais as empresas aderem a estas iniciativas com inteligência estratégica, estabelecendo com as várias instâncias da sociedade uma fundamental parceria”, concluem Miguel Ignatios, presidente do IRES, e Lívio Giosa, coordenador geral do IRES e responsável pelo estudo.
Exemplo de organização social preocupada com questões ligadas a avaliações periódicas, a Childhood Brasil apoia projetos, desenvolve programas regionais e nacionais, influencia políticas públicas e, atualmente, executa seis programas próprios e três projetos especiais.
Parte da “World Childhood Foundation (Childhood)”, instituição internacional criada em 1999 pela rainha Silvia, da Suécia, com o objetivo de proteger a infância, a ONG brasileira é responsável pela gestão do Programa Sementeiros, que oferece suportes técnico e financeiro a organizações sociais para a formação de uma rede de experiências e ações contra todas as formas de violência sexual.
“Apesar de terem impacto local, os projetos sementeiros podem germinar em outras regiões devido a suas metodologias inovadoras de intervenção”, afirma Itamar Gonçalves, gerente de programas da entidade.
Um dos cases de maior sucesso e repercussão mundial, o “Programa Água e Clima da WWF Brasil” passou por dois processos de avaliação durante sua realização, entre 2007 e 2011. Foi realizada uma parceria global entre HSBC, WWF e outras organizações conservacionistas com foco nos impactos das mudanças climáticas em bacias hidrográficas da Inglaterra, da Índia, da China e do Brasil.
Durante o período foram feitas uma avaliação de meio termo, em 2009, com ênfase em processos, e outra final, em 2011 e 2012, focando nos impactos gerados. As análises foram conduzidas seguindo os mesmos critérios para todos os países, permitindo a comparação e a troca de experiências.
De acordo com a organização que apresentou os resultados no Seminário “A relevância da avaliação para o investimento social privado”, citado na reportagem: “o processo de avaliação final resultou num conjunto de achados e reflexões que subsidiaram uma série de propostas de gestão que estão em implementação pelo Programa de Água Doce e pela organização como um todo, num momento propício para mudanças internas. Os resultados também contribuíram para apoiar a manutenção da relação com o financiador”.
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