Falsas Percepções do Trabalho Voluntário

Por: Silvia Naccache
26 Maio 2014 - 00h00

“Não sei se a vida é curta ou longa para nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas.”
Cora Coralina

Mesmo que o voluntariado tenha sempre estado presente na história do país, nunca havia se colocado como agora, como estratégia privilegiada de ampliação e renovação da intervenção social. No Brasil, desde o século 17, instituições de assistência a pessoas carentes foram orientadas para fins filantrópicos, seguindo o modelo das casas de misericórdia portuguesas, baseadas em ações cristãs. O nascimento formal do voluntariado teve origem no século 19, com o enfoque na benemerência. As instituições possuíam origens e fins diversos: instituições religiosas, de saúde (hospitais, asilos, hospícios) e educandários; instituições criadas para prestar assistência a imigrantes; e organizações profissionais ou de classes trabalhistas no início do século 20. Na época, os problemas sociais eram entendidos como “desvios” da ordem dominante e atribuídos a indivíduos “em desgraça”, que, por não terem oportunidade de reintegrar-se à sociedade, necessitavam da caridade organizada a fim de mudar de situação. Assim, as famílias mais abastadas, com boas intenções, distribuíam seus excedentes entre os necessitados. Historicamente, este tipo de trabalho esteve vinculado à atuação de damas caridosas da sociedade, sendo essencialmente um trabalho feminino. Neste contexto social paternalista, rigoroso e excludente, o “voluntariado de benemerência” era incipiente, moralizador, feminino e baseado em rígidos valores morais.

A partir do século 20, as instituições filantrópicas assistenciais passaram a ter a intervenção do poder público. A partir da década de 30, desenvolveu-se uma política de assistência social. O Estado de Bem-Estar Social do pós-guerra pregou a solução total das questões sociais, visando atender a população pobre. O atendimento aos necessitados passou a ser uma questão de política pública, passando o Estado a assumir a responsabilidade pelas condições de vida da população. A ideia de assistência privada e de benemerência que incluíam ações voluntárias e a solidariedade é contraposta à prática de serviços sociais do Estado. Embora desenvolvesse políticas muito interessantes, foi uma época que favoreceu o individualismo em prejuízo das iniciativas voluntárias ou associativas. Se o Estado tinha boas políticas sociais, quando e para que recorrer à solidariedade da sociedade civil?

Chegamos a década de 60 e surgiram irreversíveis transformações de comportamento, politizando e polemizando todas as relações ao extremo, inclusive as pessoais. Com a queda do Estado do Bem-Estar Social, o movimento voluntário viu-se questionado politicamente e sem direção clara; as parcelas mais ativas do movimento se identificaram com a crescente atividade político-partidária daquela época. O movimento voluntário foi influenciado por uma corrente contestatória e libertária presente em quase todos os movimentos sociais de origem popular da época.

A sociedade assumia sua participação ativa nas questões sociais e inúmeras organizações foram criadas, caracterizando uma atuação voluntária de ação social. Surge um voluntariado combativo, muitas vezes distante de seus ideais básicos.

Parecia um movimento “desorientado”, “espontâneo”, principalmente jovem e sem perspectivas de uma consolidação institucional que pudesse desenvolver sua identidade. A ação baseava-se no pressuposto de uma mudança de ordem social e situava-se muitas vezes no âmbito do protesto. Mas, na metade da década de 80, com a democratização da América Latina e dos países do chamado “Terceiro Mundo”, o neoliberalismo surgiu como concepção político-econômico-cultural no Ocidente. Os Estados ajustaram seus orçamentos e diminuíram lentamente os financiamentos da assistência social, transferidos para os empreendimentos privados ou para as mãos dos antigos beneficiados. A resposta foi o nascimento de um voluntariado que veio preencher os espaços e atender demandas e necessidades da sociedade. A Constituição de 88 traz a reflexão de que a responsabilidade não é mais exclusiva do Estado, mas uma corresponsabilidade entre o Estado e a Sociedade Civil, incluindo a atuação das organizações sociais, fundações e empresas. O trabalho voluntário passa a ser debatido como peça chave nesta abordagem de intervenção nos problemas sociais, tanto pela possibilidade individual de ação participativa nos problemas da sociedade, quanto pela ação privada para o bem público. A retrospectiva do voluntariado ajuda a elaborar um novo modelo de ação voluntária. A década de 90 abre as portas para um novo milênio e para um modelo de voluntariado que supere o anterior e considere o voluntário como um cidadão, que, motivado por valores de participação e solidariedade, doa seu tempo, trabalho e talento de maneira espontânea e não remunerada em prol de causas de interesse social e comunitário. Gestos individuais, espontâneos para com a comunidade, a sociedade tomando iniciativas imediatas para resolver seus problemas e, ao mesmo tempo pressionando o Estado para que ele cumpra seu papel de formular políticas públicas.

Mas apesar dessa evolução do voluntariado, não só no Brasil, mas em todo o mundo, algumas ideias e antigos conceitos ainda permanecem e são comuns a diversos países da América Latina, como os que participaram junto com o Centro de Voluntariado de São Paulo de um debate: Brasil, Guatemala, Peru, Equador, Bolívia e Colômbia. A pesquisa realizada em 2011 sobre o perfil do voluntário no Brasil indica uma maturidade e um crescimento do voluntariado em nosso país, mas vale a reflexão desses temas, que ainda aparecem como falsas ideias e percepções do que é ser voluntário

Falsas ideias e percepções

• O voluntariado é apenas exercido por mulheres;
• Os jovens não se interessam pelo voluntariado;
• O voluntariado precisa ser realizado presencialmente;
• Apenas fazem trabalho voluntário pessoas com renda média alta, nível de educação superior e que têm muito tempo livre;
• O voluntariado é feito de forma desordenada, sem compromisso e que não há espaço para profissionalização e tecnologias;
• Voluntariado acontece apenas em ONGs e que não deve haver interferência do Estado.

Desafios a enfrentar

• Criar uma metodologia global para medir grau de comprometimento e impacto do voluntariado;
• Incluir o voluntariado no discurso do desenvolvimento a nível global, regional e nacional;
• Integrar o voluntariado em todos os programas que promovam o desenvolvimento e a paz;
• Destacar que o voluntariado deve ser considerado um poderoso recurso e componente vital do capital social de todas as nações.

 

Tudo o que você precisa saber sobre Terceiro setor a UM CLIQUE de distância!

Imagine como seria maravilhoso acessar uma infinidade de informações e capacitações - SUPER ATUALIZADAS - com TUDO - eu disse TUDO! - o que você precisa saber para melhorar a gestão da sua ONG?

Imaginou? Então... esse cenário já é realidade na Rede Filantropia. Aqui você encontra materiais sobre:

Contabilidade

(certificações, prestação de contas, atendimento às normas contábeis, dentre outros)

Legislação

(remuneração de dirigentes, imunidade tributária, revisão estatutária, dentre outros)

Captação de Recursos

(principais fontes, ferramentas possíveis, geração de renda própria, dentre outros)

Voluntariado

(Gestão de voluntários, programas de voluntariado empresarial, dentre outros)

Tecnologia

(Softwares de gestão, CRM, armazenamento em nuvem, captação de recursos via internet, redes sociais, dentre outros)

RH

(Legislação trabalhista, formas de contratação em ONGs etc.)

E muito mais! Pois é... a Rede Filantropia tem tudo isso pra você, no plano de adesão PRATA!

E COMO FUNCIONA?

Isso tudo fica disponível pra você nos seguintes formatos:

  • Mais de 100 horas de videoaulas exclusivas gratuitas (faça seu login e acesse quando quiser)
  • Todo o conteúdo da Revista Filantropia enviado no formato digital, e com acesso completo no site da Rede Filantropia
  • Conteúdo on-line sem limites de acesso no www.filantropia.ong
  • Acesso a ambiente exclusivo para download de e-books e outros materiais
  • Participação mensal e gratuita nos eventos Filantropia Responde, sessões virtuais de perguntas e respostas sobre temas de gestão
  • Listagem de editais atualizada diariamente
  • Descontos especiais no FIFE (Fórum Interamericano de Filantropia Estratégica) e em eventos parceiros (Festival ABCR e Congresso Brasileiro do Terceiro Setor)

Saiba mais e faça parte da principal rede do Terceiro Setor do Brasil:

Acesse: filantropia.ong/beneficios

PARCEIROS

Incentivadores
AudisaDoação SolutionsDoritos PepsicoFundação Itaú SocialFundação TelefônicaInstituto Algar de Responsabilidade Social INSTITUTO BANCORBRÁSLima & Reis Sociedade de AdvogadosQuality AssociadosR&R
Apoio Institucional
ABCRAbraleAPAECriandoGIFEHYBInstituto DoarInstituto EthosSocial Profit
Parceiros Estratégicos
Ballet BolshoiBee The ChangeBHBIT SISTEMASCarol ZanotiCURTA A CAUSAEconômicaEditora ZeppeliniEverest Fundraising ÊxitosHumentumJungers ConsultoriaLatamMBiasioli AdvogadosPM4NGOsQuantusS&C ASSESSORIA CONTÁBILSeteco Servs Tecnicos Contabeis S/STechsoup